Greg Potter é um roteirista americano que escreveu para
várias companhias. Em 1971 ele começou a contribuir para a Warren Publishing,
ainda adolescente. Para a DC ele criou, Jemm Son of Saturn, com a arte de Gene
Colan e Klaus Janson em 1984. Ele trabalhou em vários conceitos para o
relançamento da Mulher Maravilha em 1987. Foi o co-roteirista com George Pérez
nos dois primeiros números, sendo substituído por Len Wein.
O artigo traduzido aqui apareceu pela primeira vez em The
Comics Journal 59, de 1980, portanto o Quarto Mundo de Kirby era algo ainda
recente, nem mesmo com uma década de idade. Mantenham isso em mente. Hoje temos
cerca de quarenta anos que os conceitos de Kirby estão aí. Mas quando o artigo saiu,
tudo ainda era relativamente novo. E o
impacto já existia.
Espero que gostem.
Jack Kirby nasceu em 28 de agosto de 1917, filho de um
pequeno alfaiate, em Nova York. Leitor voraz, o jovem Jack regularmente se
escondia em sua casa da Rua Suffolk, se debruçando sobre as obras de Edgar Rice
Burroughs, H.G. Wells e Ray Bradbury. Os amigos de Kirby, por outro lado, se
ocupavam de pequenos roubos de frutas e brigas de rua. Conseqüentemente, o
jovem futuro artista-escritor vivia em constante medo de ser “descoberto”. Fãs
de livros em seu bairro eram considerados “maricas” e assim prontos para
apanhar. Apesar disso, ele continuava a ler qualquer coisa que lhe caísse nas
mãos, incluindo os
pulps e os
quadrinhos dominicais publicados nos jornais. Ele se tornou um grande fã de
Dick
Tracy, de Chester Gould,
Terry and the Pirates, de Milton
Caniff e, é claro,
Flash Gordon, de Alex Raymond. Com onze anos ele começou a
emprestar livros sobre desenho da biblioteca e começou a estudá-los. Com a
idade de 14 anos ele se matriculou no Pratt Institute para um treinamento formal,
mas ele nunca freqüentou as aulas. No mesmo dia em que Kirby se matriculou, o
seu pai perdeu o emprego que pagaria as mensalidades do menino.
Finalmente,
Kirby chegou ao seu primeiro trabalho artístico profissional para um pequeno syndicate de jornal. Com a idade de 18
anos. Logo conseguiu a posição de assistente nos estúdios de Max Fleischer. Seu
trabalho era o “intermediário” nos desenhos de Popeye e Betty Boop.
Kirby desenhava as figuras de Popeye do momento que ele levantava os seus
punhos até o momento em que eles atingiam Brutus – ou Betty Boop, da hora que
ela levantava uma torta até o momento dela lançá-la. Frame sobre frame do corpo
humano em movimento. A experiência serviria como base para o estilo de
quadrinhos de Kirby.
Passar de vez para os quadrinhos, vindo do estúdio de
Fleischer, foi bem simples. Kirby logo
estava trabalhando como assistente para Blue Beetle, da Fox Comics. Na Fox,
o jovem artista fez vários contatos importantes e seu trabalho começou a
aparecer em produtos de diversas editoras. Eisner e Iger contrataram o novo
artista para trabalhar em Jumbo Comics, para a Quality
enquanto a Fawcett usou a série criada por Kirby, “Mr Scarlett”, nos primeiros
números da Now Comics. Joe Simon, então um editor da Fox, gostou tanto o
trabalho do garoto que, quando ele saiu da Fox para se unir a Timely, ele levou
Kirby com ele. Simon e Kirby se tornaram a mais prolífica equipe da Era de
Ouro. Eles criaram o Visão para a Marvel Mystery, Marvel Boy, The
Fiery Mask e Captain Daring para a Daring Mystery e, em 1941, o Capitão
América, o famoso campeão vestido de azul vermelho e branco cuja enorme
popularidade fez que ele aparecesse em mais lugares do que na sua revista
própria, Captain America.
Em 1942, a DC Comics, na época a rainha de
vendas de quadrinhos, ofereceu a eles um bom dinheiro se eles trabalhassem para
a companhia. Simon e Kirby aceitaram, produzindo Manhunter para a Adventure
Comics, The Newsboy Legion (Legião Jovem) para a Star-Spangled Comics (assim como os Desafiadores do Desconhecido e
The Boy Commandos). Mais ou menos na
mesma época, outras companhias como a Crestwood Publishing, começaram a lançar
outros trabalhos da dupla: Stuntman, Fighting American, Black Magic e Boy
Explorers. Todos levavam a assinatura de Simon e Kirby. Se considerarmos apenas
a quantidade, a dupla se tornou significativamente influente, uma força dentro
da indústria, tanto em termos criativos quanto em vendas. Ainda assim, eles
nunca pareceram sofrer de fadiga. O material era sempre original, com frescor e
diversidade. Capitão América, Sandman e Manhunter eram puros super-heróis.
Newsboy Legion e Boy Explorers eram quadrinhos sobre “gangues de meninos” (um
gênero de quadrinhos inventado por Simon e Kirby, mas que teve sua origem no
cinema, com filmes como “Dead End Kids” e “Our Gang”). Os Desafiadores do
Desconhecido eram um super grupo. Black Magic lidada exclusivamente
com histórias de terror.
Não havia muitas regras na colaboração de Simon e Kirby. Os
dois vinham com idéias e os dois faziam o roteiro e a arte também. Kirby,
entretanto, era o artista principal, geralmente fazendo todo o trabalho a
lápis. Simon se preocupava com os diálogos e a arte-final. O produto era
facilmente identificável pelas formas chanfradas grotescas de Kirby e o uso
pesado da tinta negra de Simon – e a ação! As séries de Simon e Kirby eram
invariavelmente cheias de figuras pulando, girando, batendo, caindo – fazendo
de tudo menos ficarem paradas. Os quadrinhos se transformavam em microssegundos
congelados no tempo, representando aqueles momentos fugazes de esforço atlético
quando o corpo humano está em sua mais poética forma. Quando o Capitão América
batia em um adversário, suas pernas se afastavam, seus músculos se contraiam,
seu corpo se equilibrava magnificamente. E o rosto do seu inimigo se
desmanchava como se fosse feito de massinha. Os garotos adoravam. Nunca antes a
violência tinha sido tão feia e ao mesmo tempo tão bela. O produto de Simon e
Kirby dava ao fã de super-heróis muito mais que o seu dinheiro pagava.
Infelizmente, a popularidade das capas e máscaras
desapareceu no início dos anos 50. Os editores já não mais solicitavam os
trabalhos de Simon e Kirby com o entusiasmo de antes. Com exceção de
Challengers of the Unknown, todos os
outros títulos começaram ir mal nas vendas e foram cancelados. A Crestwood Publishing faliu. Até mesmo
Captain
America, da Timely (rebatizado de
Captain America’s Weird Tales em um
esforço para fazer que ele continuasse vendendo como um título de mistério ao
invés de um de super-heróis) acabou sendo cancelado. Joe Simon deixou os
quadrinhos. Jack Kirby voltou a Timely, onde ele e o novo escritor principal,
Stan Lee, começaram a lançar títulos de monstros em um fraco esforço de
capitalizar com a popularidade de
Tales from the Crypt,
Vault
of Terror e
Haunt of Fear, da EC.
Com a chegada da Era de Prata, Lee e Kirby abandonaram os
monstros e começaram com as maravilhas voadoras. A publicação de Fantastic
Four foi seguida de perto por The
Incredible Hulk, Spider-Man, Daredevil, The
Mighty Thor e The X-Men. Lee trabalhava com os
roteiros enquanto Kirby se concentrava principalmente na arte. Mesmo em séries
onde o nome de Kirby não aparecia, ele fazia os layouts. Era assim com o Homem
de Ferro em Tales of Suspense e em Daredevil. A capa de Amazing
Fantasy 15, que trouxe a primeira história do Homem Aranha foi feita
por Steve Ditko sobre as linhas de Kirby. As idéias básicas dos personagens,
entretanto, resultavam de conferências entre os dois criadores. Os super-heróis
de Lee e Kirby eram como as composições de Lennon e McCartney.
Os anos sessenta trouxeram um rápido desenvolvimento à arte
de Kirby. E ele resolveu ilustrar apenas três títulos. The Mighty Thor, Fantastic
Four e o revivido Capitão América em Tales of Suspense. Para
qualquer outra pessoa, a quantidade de trabalho ainda seria enorme. Para Kirby,
que normalmente fazia três páginas por dia, era moleza. E finalmente ele
começou a se concentrar na qualidade e não na quantidade. Suas figuras ganharam
nova solidez e simetria, seus cenários um novo tipo de grandeza. Ele começou a
fazer experiências, usando páginas inteiras para um único quadro e às vezes até
mesmo páginas duplas. A criação de maquinário fantástico e o uso de colagem
(algo que tinha sido tentado antes nos quadrinhos por Eisner, mas nunca tinha
sido feito seriamente até Kirby). A ambientação de Kirby se tornou granítica,
massiva, representando os padrões mitológicos maiores que a própria vida,
belamente alinhavados pelo roteiro de Lee. Os leitores agora tinham algo mais
que feitos fantásticos e uniformes coloridos para olhar – eles ganharam o Poder
puro, com “P” maiúsculo, a visão de Kirby dos super-heróis. Poder, afinal de
contas, é o que os super-heróis representam. E os super-heróis Marvel tinham
poder suficiente para ser qualificados como deuses.
E um dos personagens mais populares de Lee e Kirby era um
deus – um deus nórdico, para ser exato – o Poderoso Thor. Inicialmente o Thor
da Marvel era um médico aleijado terrestre chamado Donald Blake que, achando um
bastão místico em uma antiga caverna é transformado em uma réplica do lendário
deus do trovão. Quando batia o tal bastão no chão, Blake podia controlar a
transformação à vontade. Com o passar do tempo o quadrinho progrediu e Lee e
Kirby começaram a adicionar outros personagens mitológicos ao
cast de
Thor: Loki, o deus do
Mal, Odin, o Pai Supremo dos Deuses, Sif, a deusa da Beleza entre outros. O
próprio Thor começou a usar “vós” e “vossos” bíblicos, mudando a sua forma de
falar. Os padrões mitológicos estavam se tornando ricos demais para permitir
que um mortal como Don Blake fosse o personagem principal. Com o advento de
Thor
159 (1968), Lee e Kirby modificaram seu conceito original dizendo que era Don
Blake e não Thor que era fictício. Thor evidentemente tinha sido vítima de
algum plano que o fez pensar ser um mortal e não Thor, enquanto o contrário que
era verdadeiro. A solução foi bem tola e superficial, mas foi necessária. Uma
vez quea linhagem de Thor foi estabelecida como sendo da realeza divina (ele
era o príncipe dos deuses, o filho e Odin), nem mesmo o céu era o limite para o
herói que Lee se referia com carinho como “cachinhos dourados”. Então todo um
universo de deuses foi acrescentado ao título: Balder, o Bravo; Volstagg,
Fandral, Hela, Hogun e muitos outros que fizeram o seu nome muito além da ponte
do arco-íris que levava a Asgard. Se os super-heróis são os deuses de nossa época,
o Thor da Marvel demonstrou que os deuses deveriam ser os super-heróis dos
tempos passados.
Em 1970 Kirby trocou de lado mais uma vez, retornando para a
DC. O diretor editorial Carmine Infantino ofereceu ao artista/escritor controle
criativo total em qualquer título que ele decidisse fazer para a companhia,
mais um ótimo salário. Kirby não só desenharia para Infantino, mas também
escreveria e editaria. A parte da DC seria agir apenas como gráfica
distribuidora e gerente de negócios. Nunca houve uma oferta como aquela na
história dos quadrinhos. E ainda mais surpreendente foi o fato de Infantino
contratar Kirby. O artista estava morando na Califórnia naquela época para
tratar da saúde delicada de sua esposa. Morar em Manhattan era normalmente
requisito para quem fazia parte do
staff
da DC. Infantino estava quebrando todas as regras. Jack Kirby tinha sido
oficialmente reconhecido como a mais procurada força dentro dos quadrinhos.
O projeto inicial de Kirby na DC foi tão incomum quanto o
seu contrato. Ele assumiu um dos títulos mais antigos da companhia, Superman’s
Pal Jimmy Olsen, e criou três outros: The Forever People, New
Gods e Mister Miracle. Os quatro títulos contavam uma única história –
uma história de deuses, uma tetralogia mítica. Kirby postulou a existência de
dois mundos (localização desconhecida) habitados por descendentes das antigas
divindades mitológicas. Nova Gênese, o primeiro, era um planeta utópico
governado pelo benevolente Pai Celestial. A sua população consistia de belos e
bondosos deuses, incluindo Lightray, Metron, Speedback e os jovens do Povo do
Amanhã (Forever People). Orion, o mais poderoso (e belicoso) deus de Nova
Gênese na verdade havia nascido no mundo-irmão, o sombrio Apokolips. Apokolips
era governado por Darkseid, uma criatura malévola e grotesca cujos terríveis
servos incluíam o sádico torturador Desaad, a senhora do orfanato Vovó Bondade
e o nojento Slig.
A tetralogia de Kirby mostra uma guerra entre os dois
planetas. O líder de Apokolips está em busca da “equação anti-vida”, um segredo
milenar que se esconde em algum lugar do planeta Terra. Quem o possuir ganhará
o poder de escravizar o universo. Nova Gênese, é claro, se opõe a seu gêmeo mau
e o principal campo de batalha é a própria Terra. O resultado é um épico que
toca nossas almas precisamente porque os deuses de Kirby são representantes
daquelas almas, que são desconstruídas, alter ego por alter ego, e examinadas
sob uma fachada de entretenimento. Darkseid é, literalmente, nosso “lado negro”
– aquela parte de nós faminta por poder e sempre buscando meios de dominação
universal. O Pai Celestial é... Mas eu me adianto. Por enquanto basta dizer que
descobriremos o lugar do Pai Celestial na filosofia de Kirby logo a seguir.
Cada um quatro títulos da tetralogia de Kirby examina o confronto
entre Nova Gênese e Apokolips de uma perspectiva diferente. Em Jimmy
Olsen, o famoso repórter junta forças com o Superman e o Guardião, o
governo dos Estados Unidos e uma revitalizada Legião Jovem para lutar em uma
batalha do nível “Terra contra os invasores”. Servos de Darkseid vinham fazendo
experiências genéticas em nosso planeta, criando monstruosidades para lutar na
guerra. O governo americano, por sua vez, havia montado a sua própria produção
secreta de clones, criando os seres conhecidos como DNAliens. Jimmy Olsen, pego
no meio dessa confusão, luta contra ela com sua esperteza e seus punhos. Ele é
a representação visível daquele grupo que participa de todas as aventuras de
Kirby – ele é o jovem leitor, que se projeta heroicamente na batalha.
The Forever People lida com uma equipe de deuses adolescentes
de Nova Gênese que vem a Terra em busca de paz e acabam se tornando aberrações
pelos padrões dos humanos e alvos para os soldados de Darkseid. Se as maneiras
e guerras de Nova Gênese parecem estranhas para nós, The Forever People nos
lembra que também somos estranhos para eles. Afinal de contas, as
personalidades dos Novos Deuses são simplificações das nossas. A estranheza dos
jovens deuses com a nossa complexidade emocional é uma ampliação de nossa
própria inabilidade de mensurar a motivação humana.
Mister Miracle é mais ou menos um título “normal” de
super-heróis, mas ainda assim o seu lugar na saga de Kirby é central. Ele
mostras as aventuras de Scott Free, filho do Pai Celestial, príncipe de Nova
Gênese que tendo sido criado em Apokolips, não tem certeza de onde é seu lugar.
Ele não é um terráqueo, ele não é um membro maldoso da raça de Apokolips, mas
mesmo assim a sua infância perdida não
permitiu que ele formasse vínculos com o seu mundo de origem. Ele acaba se
tornando um artista de fugas por mera desorientação e acaso. Infelizmente, a
maldade de seu passado e os sonhos utópicos de sua terra natal nunca permitem
que ele descanse. O Senhor Milagre é o homem comum, lutando para equilibrar sua
vida entre pecados degradantes e ideais inalcançáveis, Quando estava para
escapar do planeta de Darkseid (Mister Miracle 9, Agosto de 1972),
ele fica entre o terrível ditador que escraviza todos e uma figura crística, um
“sonhador” visionário” chamado Himon:
Darkseid: Fique,
guerreiro! Deixe-me completar a destruição de Scott Free – para que vocêr possa
viver na majestade que é o poder de Darkseid! ... O jovem tolo continua! Ele
luta para se levantar! Mesmo que ele deixe Darkseid ele ainda assim encontrará
a morte!
Himon: Se ele deixar
Apokolips ele encontrará o universo!
Senhor Milagre: Deixe-me
ser Scott Free – e me encontrar! (1)
(1) N do T.: Aqui
Kirby usa um jogo de palavras. “scot-free” significa “ livre”.
New Gods é o mais “mítico” dos quatro, já que ele trabalha mais
diretamente com as sociedades e Nova Gênese e Apokolips. A história que vamos
estudar aqui é de New Gods 7 (Março de 1972) e detalha os eventos que levaram a
presente guerra entre Nova Gênese e Apokolips. Ela é, em outras palavras, um
flashback. Também é rica em entusiasmo e filosofia kirbyana.
A primeira e mais duradoura impressão que temos da arte de
Kirby é de poder. Na primeira página, mesmo enquanto em repouso, Izaya e sua
elegante esposa Aria são mostrados de forma massiva e poderosa. O rosto de
Izaya é quadrado como um bloco. Sua boca, fina e ampla, corre por dois terços
de seu queixo. O seu nariz é perfeitamente, quase matematicamente, centrado em
na sua face, como um crucifixo de ponta cabeça. Sua cabeleira negra é pesada, e
suas sobrancelhas demoníacas lhe dão uma aparência leonina. Sua expressão, no
entanto – o leve contorno em seus lábios, o movimento líquido em uma pálpebra –
reflete o momento de paz que ele e sua companheira estão compartilhando.
As mãos de Izaya são enormes. Mesmo com os dedos colados um
no outro, ele poderia bloquear todo o seu rosto com uma única mão. Os seus
bíceps refletem também o poder de seu ser. Eles são arredondados, cortados aqui
e ali por diagonais e pesadas meias-luas. Essas pinceladas firmes dão solidez
aos braços de Izaya. Sem elas, os bulbosos apêndices do guerreiro poderiam ser
considerados flácidos. Os mesmos padrões aparecem em suas pernas. Pesadas
pinceladas em negro correm paralelas aos contornos das pernas, mostrando ao
leitor um senso de firmeza e solidez.
E a constituição de Izaya teria que ser poderosa apenas para
manter o seu vestiário. Faixas de metal e couro envolvendo seus ombros,
cintura, braços e panturrilhas. Suas luvas são grossas e apertadas como se
feitas de um material robusto. A clava de guerra que ele segura tem a ponta
pesada e grande, mas ainda assim ele a mantém sem esforço em sua mão direita. A
clava, a propósito, não é apenas a arma de Izaya, mas também um importante
elemento do storytelling de Kirby.
Nas páginas um a quatro a clava é o símbolo do papel protetor do guerreiro na
sociedade. Izaya o carrega prevendo invasões, mas ainda assim, quando essa invasão
ocorre, a arma é inútil para evitar a tragédia. Na página 15 ela se transforma
em um terrível agente de vingança e destruição.
É a clava que destrói
Steppenwolf, fazendo que Izaya sinta pesar e diga: “Esse é o modo de
Darkseid!”. É a clava que vemos sendo apontada para nós na página 20, terceiro
quadrinho, enquanto o guerreiro grita: “Se sou Izaya, o Herdeiro – qual é as
minha herança?” E é a clava que é destruída pela Fonte no próximo quadrinho em
uma explosão que engolfa tudo. Finalmente, ela é transformada no cajado de
pastor que vemos Isaya, agora transformado no Pai Celestial, carregando na
página 24. A atitude de Isaya sobre o conflito muda e vemos a filosofia de
Kirby sobre a guerra, com a clava refletindo tanto a atitude quanto a
filosofia.
Avia também se mostra poderosa aos olhos de leitor, mas
(como não poderia deixar de ser) de uma forma feminina. Certamente ela não é
uma menininha frágil. Os contornos de seus braços são mais suaves, menos
rígidos dos que de Izaya. Seu rosto é amplo, simples, simétrico e belo. As
linhas que passam por seus membros são suaves, diferentes das do seu marido,
que parecem ser esculpidos na madeira. O seu cabelo está preso na nuca, como um
leque, lembrando as penas de um pavão, dando-lhe aparência elegante e régia.
Seu ombro encosta-se à armadura de seu marido. Ela tem uma figura sólida, mas
mesmo assim suave.
O cenário é arquetípico: Paraíso, o Jardim do Éden. Apesar
de Kirby dizer que o virtuosismo não o impressionava, ele parece ter um senso
nato de simetria em suas composições. Uma linha projetada da clava de Izaya até
o pulso de Avia se inclina para baixo, da direita para a esquerda. A linha de
flores atrás do casal tem uma inclinação semelhante. Entretanto, esse padrão
para baixo é contrastado pela queda d’água e o penhasco, fazendo que olhemos
para cima. Da mesma forma, se projetarmos uma linha para fora do quadro, do
dedo do pé de Izaya até a sola de Avia, essa linha se inclina de uma maneira
diametralmente oposta a linha anterior, mais uma vez contrastando-a e
equilibrando-a. Esse tipo de perspectiva é exibida em trabalhos posteriores de
Kirby. É difícil, creio, ter Alex
Raymond como influência e não se preocupar com a perspectiva.
“In the Beginning” (No Início) é a frase de maior destaque
no quadro. É interessante notar que Kirby, que faz um pesado uso dos deuses
subjetivos, pega tanto da tradição judaico-cristã, que insiste em um deus
objetivo. Como Ludwig Feuerback, o famoso filósofo do século 19, Kirby vê a
adoração dos deuses como a adoração dos homens:
As pessoas estão
cometendo um erro quando elas pensam que estão tendo um interesse passivo na
adoração dessas imagens. Creio que deve ter havido algum nórdico com um
capacete enferrujado e uma barba cheia de lama sentado perto de um rio, se
cocando... eles se parecia com um joão-ninguém e ele sabia disso, mas de alguma
forma ele queria ter uma imagem melhor dele mesmo, então ele inventou Odin e
Thor, Hércules e Sansão... e adorando aquela reflexão ele próprio se tornou
maior, seu capacete se tornou mais brilhante e sua barba mais sedosa e ele foi
capaz d atirar aquele raio e aquele trovão. E eu creio que isso não mudou
muito, apenas que agora somos mais sofisticados para racionalizar isso um pouco
melhor.
Entretanto, Kirby não vê a adoração do Deus judaico-cristão
dessa maneira. Ele não chegou a sua teoria graças as conclusões de Feuerback
que teologia é antropologia. Kirby ainda mantém a crença que seu Deus, o Deus
da Bíblia é objetivo e separado da humanidade. Essas duas visões diferentes de
divindade fazem que Deus, para Kirby, seja um mistério insondável. Então,
enquanto ele escreve ficção clara e concisa sobre deuses míticos, ele pode
colocar o seu próprio Deus dentro de seu universo ficcional, mas em termos
obscuros e sem forma. “A Fonte” é a Fonte que é a Fonte, assim como uma rosa é
uma rosa que é uma rosa. Kirby deixa claro que mito, e não teologia, é seu
forte.
É claro, Isaya é o Isaias da Bíblia. Mas ao contrário do
profeta bíblico, Isaya parece nos ensinar sobre o homem e não sobre Deus. “No
início os Novos Deuses não tinham forma e nenhum propósito” nos diz mais sobre
a criação da sociedade pelo homem do que da vida por Deus. A pomba bíblica bem
mal desenhada (Kirby nunca está à vontade com formas leves e com penas) é uma
lembrança, ainda que não convencional, que as maneiras do céu têm apenas um
lugar simbólico na saga dos Novos Deuses. Kirby realmente está escrevendo sobre
os homens. Os seus deuses são tão corpóreos quanto a sua arte é massiva.
As páginas dois a quatro contém o tipo incrivelmente
dinâmico de seqüência de luta que é típica de Kirby. Linhas simbólicas de
stress aparecem em todos os lugares. Punhos parecem literalmente explodir
quando fazem contato. Onomatopéias são projetadas para seguir os movimentos que
elas representam. Por exemplo, na página 2, quadro 4, “Zok!” segue o movimento
da mão de Isaya. Na página 3, quadro 1, “Braam!” está em paralelo com o
movimento de Steppenwolf. Na página 4, o primeiro quadrinho tem um “Ffzzak!”
que chega ao leitor ao mesmo tempo em que atinge o corpo de Avia. Finalmente,
as figuras de Kirby são robustas, equilibradas. Pernas abertas. A mão esquerda
centrada com a outra enquanto ela dá um soco. Nós nos banhamos na glória do
homem versus o homem, como se estivéssemos assistindo um balé ou um replay em
câmera lenta, frame por frame, de um evento olímpico. A experiência que Kirby
teve com Max Fleischer lhe é realmente muito útil.
O gosto de Kirby pelo maquinário fantástico e intrincado
aparece com as “luvas assassinas” de Darkseid na página 4.
As páginas 6 e 7,
com uma splash page dupla, dá testemunha disso. Aliás, as páginas duplas são
uma especialidade de Kirby. E sempre tais páginas estão recheadas de violência
poética. Só pelo tamanho, elas acentuam o choque e a reverência apresentada na
cena dentro dela. A questão desses quadros para seu criador não é se eles devem
ser usados, mas sim o quando. E
Kirby é um mestre de saber quando. Aqui, seu quadro, maior que todos os outros
quadros anteriores, introduz um conceito que é maior que todos os conceitos
anteriores: a guerra cósmica entre duas raças de deuses.
A página 10, terceiro quadro, apresenta um dos mais
intrigantes dos Novos Deuses, Metron. Kirby havia criado vários personagens
similares a Metron antes de ir para a DC. Na Marvel, ele e Lee conceberam o
Vigia, o sábio careca que viajava pelo universo apenas observando. Foi
necessário o Quarteto Fantástico para deixar o Vigia preocupado o suficiente
para se envolver. Igualmente, Kirby criou o Registrador em Thor. O Registrador
era um robô que, mais uma vez, observava
sem se envolver: o historiador supremo. Metron, entretanto, é o exemplo supremo
do “observador cósmico” do artista/escritor. Ele é a mais pura personificação
do desejo do homem pela gratificação do conhecimento, do saber. A sua libido é
orientada para a satisfação intelectual, não sexual. Então, ele não conhece nem
respeita nenhuma lei além das da ciência. Ele não se interessa pelas artes,
pelos deuses ou pela moralidade. Na página 11, terceiro quadrinho, ele diz:
“Eu não tenho ligação
nenhuma com os velhos deuses – ou com os novos! Eu sou algo – diferente! Algo
que não foi previsto – nem em Nova Gênese, nem aqui!”
Ele é, na verdade, a sociedade americana. Não é nossa uma
cultura de realizações científicas? Nós honramos nossos filósofos, artistas e
teólogos da mesma maneira que fizemos com os nossos magos financeiros ou
astronautas? Darkseid poderia muito bem estar falando com Werner Von Braum
sobre a bomba atômica quando diz:
“Você vai nos trair com
o tempo, Metron! Mas isso, isso você deve construir... para nós!”
No final, Metron não construiria apenas o “limiar da
matéria” para Darkseid, mas também o Trono Mobius. Com ele, o estudioso galáctico
se transportaria centenas de vezes de Nova Gênese para Apokolips em busca de
conhecimento. Ainda assim, Kirby é o primeiro a reconhecer que o progresso, o
verdadeiro progresso “humano” só pode ser alcançado combinado ciência e arte.
Em Mister
Miracle 9, Metron encontra o “visionário” Himon e seu diálogo é
extremamente revelador:
Metron: Salve, Himon! Mestre das Teorias!
Himon: Salve, Metron! Mestre dos Elementos!
Metron: As maravilhas que construo nascem de sua mente! As
estradas pelas quais viajo são abertas por suas gigantescas percepções!
Como um artista americano, Kirby não gosta da sociedade que
considera o trabalho que ele faz como secundário. E Metron é a representação
visível desse desgosto.
A violência na história de Kirby alcança seu clímax bem
antes de sua conclusão, com a morte de Steppenwolf na página 15. Isso é muito
incomum em uma história em quadrinhos regular de herói versus vilão. Izaya
assegura esse fato na próxima página quando, quando no quarto quadrinho ele diz
a Metron: “Eu sempre soube! O verdadeiro
inimigo sempre foi o obscuro e humilde Darkseid!”.
Quase sempre em histórias em
quadrinhos, o verdadeiro inimigo é alguém facilmente disponível para levar um
soco no nariz ou ser jogado na prisão. As coisas não são tão simples assim em
New Gods. Os personagens míticos de Kirby podem ser versões simplificadas de
muitas facetas psicológicas do homem, mas sua saga lida com todas essas facetas
em interpretações complexas. Izaya percebe que a destruição de Steppenwolf não
é a cura para todos os males que atacam seu universo. O “lado negro” do homem é
sutil demais, impossível de ser aniquilado por mera resistência física. É por
isso que, na página 18, “dentro de Izaya de Nova Gênese, algo morre” com cada
ato de guerra e violência. Ele clama:
“Nós somos piores que
os velhos deuses! Eles se destruíram! Nós destruímos tudo! Essa é a maneira de
Darkseid! Para salvar Nova Gênese, eu devo encontrar Izaya!”
O mal deve ser combatido em todas as frentes, tanto dentro
quanto fora do homem – e um equilíbrio deve ser encontrado nessa batalha ou a
própria batalha vai fortalecer o que o guerreiro quer combater. Não se pode
combater mal com o mal, guerra com mais guerra. Izaya e Kirby tentam nos
mostrar uma maneira melhor.
Os dois quadros centrais da página 18 são compostos de
maneira espetacular. Primeiramente vemos Izaya olhando para o universo. Ele não
é mais o guerreiro orgulhoso que nós conhecemos nas páginas um e dois. Seu
rosto está entrecortado com pesadas verticais, suas sobrancelhas parecem com
cavernas negras. Seus olhos não têm pupilas, uma reflexão de sua alma perdida.
Nós olhamos para ele com reverência, mas ele não nos percebe. Sua dor é grande
demais para isso. Seu cabelo desgrenhado ainda lembra a juba de um leão, mas a
sua mão fechada dá impressão que ele é a estátua de uma fera – uma esfinge,
talvez. Ou um leão da Babilônia – se perguntando o que havia devorado a sua
civilização, civilização que uma vez tinha sido grandiosa. Ele enterra seu rosto nas mãos no próximo
quadro e nossa perspectiva acentua o movimento para baixo de sua cabeça. O
bravo e auto-suficiente deus da guerra tinha caído ao chão. Ele percebe que ele
precisa se achar no que lhe torna verdadeiro.
Izaya busca o positivo no esforço
de combater o negativo da “anti-vida” de Darkseid. A Fonte, o Criador, Deus com
“D” maiúsculo é esse positivo. Assim
como Deus judaico-cristão que a Fonte representa, ela sempre esteve lá, “esperando
calmamente que Izaya se comunicasse”, esperando que o homem fizesse o seu
primeiro movimento. Kirby tece uma complexa tapeçaria baseada nos padrões de
história mitológicos gregos e nórdicos, enquanto a colocava sobre uma fundação
de ideais judaico-cristãos. Somente a força física de Hércules, por exemplo,
seria suficiente para destacá-lo de sua raça, transformando-o no deus da força.
Mas Izaya deve transformar o seu ser inteiro, corpo e alma, antes de se tornar
o Pai Celestial.
As últimas quatro páginas detalham a troca de herdeiros
entre Izaya e Darkseid, uma linha de roteiro mitológico familiar. Mesmo assim,
até mesmo aí Kirby injeta elementos bíblicos. O pequeno Scott Free é descrito
por Darkseid como o “cordeiro” de Izaya, um animal destinado ao sacrifício.
Cristo, é claro, era o “cordeiro de Deus”, sacrificado em um mundo de pecados.
Como um adulto, o Senhor Milagre nunca se tornará o salvador de Apokolips. Até
mesmo o próprio Cristo teria dificuldades em trazer a salvação para Sodoma e
Gomorra. Ele se tornará, ao invés disso, discípulo de Himon e traçará um curso
entre Nova Gênese e Apokolips.
Orion, por outro lado, é a antítese da figura de Cristo. Ele
é o filho do demônio mandado aos céus. O mundo onde ele agora habita vai, no
final, “salvá-lo” – ainda assim, essa salvação nunca será completa. Orion se
torna o mais terrível, e ao contrário do que deseja o Pai Celestial, o mais
sanguinário dos guerreiros de Nova Gênese. Ao contrário de Izaya, ele não pode
esperar encontrar a paz encontrando a si mesmo. Ele é o filho de Darkseid. Ele
é o produto do mal. Sua vida inteira será dedicada a combater o que ele é e
tentar transformá-lo no que ele não é. De todos os Novos Deuses, Orion é o mais
atormentado e o mais valente. Kirby passa mais tempo delineando a sua vida do
que qualquer outro personagem em New Gods.
Em Abril de 1972, Jack Kirby deixou Jimmy Olsen. Logo depois
Carmine Infantino decidiu que , apesar da enorme aclamação que a tetralogia
(agora trilogia) de Kirby estava recebendo dos fãs de quadrinhos, os leitores
casuais não estavam comprando as revistas. Os números das vendas se equilibravam
precariamente entre sucesso e fracasso. Em novembro, a DC cancelou New
Gods e Forever People. Mister Miracle vendia melhor que os
outros (graças provavelmente ao seu roteiro mais calcado nos super-heróis) se
segurou até Março de 1974, quando ele também foi cancelado. Kirby ficou
arrasado. Ele ameaçou a deixar a DC, mesmo ainda com o contrato vigente. Joe
Brancatelli, do Inside Comics relatou
que o próprio Infantino atravessou o continente para aplacar o criador, em Los
Angeles.
Em Setembro, Kirby imediatamente seguiu com The
Demon, uma mistura entre monstros e super-heróis lidando com mitologia
medieval (especialmente a lenda do Rei Arthur). O personagem principal, Etrigan,
era uma criatura com intenções nobres. Ele era a criação e servo de Merlin, em
Camelot. Quando o Reino de Arthur caiu, o mago salvou o Demônio dando-lhe uma
forma humana, e fazendo que ele esquecesse o passado. The Demon 1 reconta a
história da descoberta de Jason Blood que ele é na verdade algo mais que carne
e osso. Suas aventuras vão até janeiro de 1974 quando, no número 16, elas
também são vítimas do machado editorial.
A criação de Kirby para a DC que mais durou foi Kamandi,
The Last Boy on Earth. Publicada inicialmente em Novembro de 1972,
Kamandi tinha sido concebido anos antes e originalmente era para ser uma tira
de jornal. A história é sobre a “Terra-AD” (After Disaster, Depois do Desastre)
– uma época que, devido a experimentos científicos que saíram de controle, a
natureza se rebela. Animais de todas as espécies caminham e falam como seres
humanos e lutam uns com os outros entre as ruínas de uma civilização que havia
sido poderosa. Os tigres são a mais importante força nesse mundo. Liderados
pelo grande felino Caesar e seu filho Tuftan, eles estão em batalha constante
com hordas bárbaras de macacos inteligentes. Os leões são guardas de caça, capturando
humanos e os colocando em reservas. Os ratos são nômades que atacam as
povoações de todos os outros animais em busca de comida e bebida. O Senhor
Sacker, um velho e horrível réptil, toma conta de uma enorme loja de
departamentos, vendendo mercadorias exóticas o suficiente para serem
qualificadas como circo de horrores (humanos treinados são a especialidade de
Sacker). Exceto pelos mutantes, Kamandi é o único homo sapiens inteligente que
foi deixado vivo, e ele tem uma atitude de revolta enorme. Ele conhece o seu
passado, sabe que todo o evento histórico que ocorreu na Terra AD foi
influenciado por seus antepassados. Kamandi tenta, sozinho, restabelecer a
glória que foi a raça humana. Kamandi durou 59 números, tendo sido
cancelado pela DC Implosion em 1978.
Outros títulos que foram dados a Kirby, depois do fracasso
de The
Demon, incluíam Our
Fighting Forces e Justice Incorporated (estrelando o
herói pulp de Lester Dent, o
Vingador). A First Issue Special mostrou três novos conceitos de Kirby:
Atlas, uma nova versão do Caçador (Manhunter) e The Dingbats, uma gangue de
crianças. Nenhum deles decolou, entretanto. Em Janeiro de 1976 Kirby voltou
para a Marvel Comics, onde mais uma vez ele escreveu e desenhou Captain
America, junto com suas novas criações The Eternals, Devil
Dinossaur e Machine Man, um spin-off
de 2001:
A Space Odyssey, um título que Kirby produziu por dez números. Então
ele abandonou os quadrinhos para se dedicar a animação, produzindo os storyboards para, entre outros, a nova
série animada de televisão Fantastic Four.
Assim como Eisner, Jack Kirby é um storyteller estilístico.
Suas figuras e cenários servem para dar o tom dos grandes temas de seu
trabalho. Ainda assim ao contrário de Eisner, o seu estilo não é adequado para
muitos tipos de gênero. Gangues infantis, super-heróis e deuses são seus pontos
fortes. Foi o estilo de Kirby que popularizou o gênero dos super-heróis nos
quadrinhos. Seu trabalho na Era de Ouro foi estudado e copiado infinitamente
por todos os grandes artistas de super-heróis. Até mesmo Bob Kane e Jerry
Robinson começaram a desenhar o Batman em poses de luta kirbyescas: pés
separados, o braço fazendo um arco em frente ao rosto, o torso inclinado para
trás com a força do golpe. Ele se tornou tão influente que seus muitos
imitadores acabaram o enterrando. O seu trabalho já não era mais único,
O seu
rápido desenvolvimento na Marvel nos anos sessenta, entretanto, o coloca na
ponta dos artistas de super-heróis. Seu novo senso de tridimensionalidade e
volume durante aquele período elevou o poder que seu trabalho inicial tinha a
novas alturas. Mais uma vez, existiam imitadores de Kirby, como John Buscema,
Gil Kane e Barry Smith, em seu primeiro estilo. Mas o “Rei” Kirby, como Lee o
chamava, tinha um estilo que nenhum dos imitadores podia igualar. E mais, o
trabalho de Kirby na Marvel (e depois na DC) estabelece, em termos
estilísticos, o que Raymond havia feito em termos românticos: a tradição da
história gráfica épica.