Prata e Bronze

domingo, 30 de novembro de 2014

Os Deuses e Heróis de Jack Kirby, Greg Potter

Greg Potter é um roteirista americano que escreveu para várias companhias. Em 1971 ele começou a contribuir para a Warren Publishing, ainda adolescente. Para a DC ele criou, Jemm Son of Saturn, com a arte de Gene Colan e Klaus Janson em 1984. Ele trabalhou em vários conceitos para o relançamento da Mulher Maravilha em 1987. Foi o co-roteirista com George Pérez nos dois primeiros números, sendo substituído por Len Wein.


O artigo traduzido aqui apareceu pela primeira vez em The Comics Journal 59, de 1980, portanto o Quarto Mundo de Kirby era algo ainda recente, nem mesmo com uma década de idade. Mantenham isso em mente. Hoje temos cerca de quarenta anos que os conceitos de Kirby estão aí. Mas quando o artigo saiu,  tudo ainda era relativamente novo. E o impacto já existia.

Espero que gostem. 


Jack Kirby nasceu em 28 de agosto de 1917, filho de um pequeno alfaiate, em Nova York. Leitor voraz, o jovem Jack regularmente se escondia em sua casa da Rua Suffolk, se debruçando sobre as obras de Edgar Rice Burroughs, H.G. Wells e Ray Bradbury. Os amigos de Kirby, por outro lado, se ocupavam de pequenos roubos de frutas e brigas de rua. Conseqüentemente, o jovem futuro artista-escritor vivia em constante medo de ser “descoberto”. Fãs de livros em seu bairro eram considerados “maricas” e assim prontos para apanhar. Apesar disso, ele continuava a ler qualquer coisa que lhe caísse nas mãos, incluindo os pulps e os quadrinhos dominicais publicados nos jornais. Ele se tornou um grande fã de Dick Tracy, de Chester Gould, Terry and the Pirates, de Milton Caniff e, é claro, Flash Gordon, de Alex Raymond. Com onze anos ele começou a emprestar livros sobre desenho da biblioteca e começou a estudá-los. Com a idade de 14 anos ele se matriculou no Pratt Institute para um treinamento formal, mas ele nunca freqüentou as aulas. No mesmo dia em que Kirby se matriculou, o seu pai perdeu o emprego que pagaria as mensalidades do menino.




Finalmente, Kirby chegou ao seu primeiro trabalho artístico profissional para um pequeno syndicate de jornal. Com a idade de 18 anos. Logo conseguiu a posição de assistente nos estúdios de Max Fleischer. Seu trabalho era o “intermediário” nos desenhos de Popeye e Betty Boop. Kirby desenhava as figuras de Popeye do momento que ele levantava os seus punhos até o momento em que eles atingiam Brutus – ou Betty Boop, da hora que ela levantava uma torta até o momento dela lançá-la. Frame sobre frame do corpo humano em movimento. A experiência serviria como base para o estilo de quadrinhos de Kirby.

Passar de vez para os quadrinhos, vindo do estúdio de Fleischer,  foi bem simples. Kirby logo estava trabalhando como assistente para Blue Beetle, da Fox Comics. Na Fox, o jovem artista fez vários contatos importantes e seu trabalho começou a aparecer em produtos de diversas editoras. Eisner e Iger contrataram o novo artista para trabalhar em Jumbo Comics, para a Quality enquanto a Fawcett usou a série criada por Kirby, “Mr Scarlett”, nos primeiros números da Now Comics. Joe Simon, então um editor da Fox, gostou tanto o trabalho do garoto que, quando ele saiu da Fox para se unir a Timely, ele levou Kirby com ele. Simon e Kirby se tornaram a mais prolífica equipe da Era de Ouro. Eles criaram o Visão para a Marvel Mystery, Marvel Boy, The Fiery Mask e Captain Daring para a Daring Mystery e, em 1941, o Capitão América, o famoso campeão vestido de azul vermelho e branco cuja enorme popularidade fez que ele aparecesse em mais lugares do que na sua revista própria, Captain America
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Em 1942, a DC Comics, na época a rainha de vendas de quadrinhos, ofereceu a eles um bom dinheiro se eles trabalhassem para a companhia. Simon e Kirby aceitaram, produzindo Manhunter para a Adventure Comics, The Newsboy Legion (Legião Jovem) para a Star-Spangled Comics  (assim como os Desafiadores do Desconhecido e The Boy Commandos).  Mais ou menos na mesma época, outras companhias como a Crestwood Publishing, começaram a lançar outros trabalhos da dupla: Stuntman, Fighting American, Black Magic e Boy Explorers. Todos levavam a assinatura de Simon e Kirby. Se considerarmos apenas a quantidade, a dupla se tornou significativamente influente, uma força dentro da indústria, tanto em termos criativos quanto em vendas. Ainda assim, eles nunca pareceram sofrer de fadiga. O material era sempre original, com frescor e diversidade. Capitão América, Sandman e Manhunter eram puros super-heróis. Newsboy Legion e Boy Explorers eram quadrinhos sobre “gangues de meninos” (um gênero de quadrinhos inventado por Simon e Kirby, mas que teve sua origem no cinema, com filmes como “Dead End Kids” e “Our Gang”). Os Desafiadores do Desconhecido eram um super grupo. Black Magic lidada exclusivamente com histórias de terror.



Não havia muitas regras na colaboração de Simon e Kirby. Os dois vinham com idéias e os dois faziam o roteiro e a arte também. Kirby, entretanto, era o artista principal, geralmente fazendo todo o trabalho a lápis. Simon se preocupava com os diálogos e a arte-final. O produto era facilmente identificável pelas formas chanfradas grotescas de Kirby e o uso pesado da tinta negra de Simon – e a ação! As séries de Simon e Kirby eram invariavelmente cheias de figuras pulando, girando, batendo, caindo – fazendo de tudo menos ficarem paradas. Os quadrinhos se transformavam em microssegundos congelados no tempo, representando aqueles momentos fugazes de esforço atlético quando o corpo humano está em sua mais poética forma. Quando o Capitão América batia em um adversário, suas pernas se afastavam, seus músculos se contraiam, seu corpo se equilibrava magnificamente. E o rosto do seu inimigo se desmanchava como se fosse feito de massinha. Os garotos adoravam. Nunca antes a violência tinha sido tão feia e ao mesmo tempo tão bela. O produto de Simon e Kirby dava ao fã de super-heróis muito mais que o seu dinheiro pagava.

Infelizmente, a popularidade das capas e máscaras desapareceu no início dos anos 50. Os editores já não mais solicitavam os trabalhos de Simon e Kirby com o entusiasmo de antes. Com exceção de  Challengers of the Unknown, todos os outros títulos começaram ir mal nas vendas e foram cancelados.  A Crestwood Publishing faliu. Até mesmo Captain America, da Timely (rebatizado de Captain America’s Weird Tales em um esforço para fazer que ele continuasse vendendo como um título de mistério ao invés de um de super-heróis) acabou sendo cancelado. Joe Simon deixou os quadrinhos. Jack Kirby voltou a Timely, onde ele e o novo escritor principal, Stan Lee, começaram a lançar títulos de monstros em um fraco esforço de capitalizar com a popularidade de Tales from the Crypt, Vault of Terror e Haunt of Fear, da EC.



Com a chegada da Era de Prata, Lee e Kirby abandonaram os monstros e começaram com as maravilhas voadoras. A publicação de Fantastic Four  foi seguida de perto por The Incredible Hulk, Spider-Man, Daredevil, The Mighty Thor e The X-Men. Lee trabalhava com os roteiros enquanto Kirby se concentrava principalmente na arte. Mesmo em séries onde o nome de Kirby não aparecia, ele fazia os layouts. Era assim com o Homem de Ferro em Tales of Suspense e em Daredevil. A capa de Amazing Fantasy 15, que trouxe a primeira história do Homem Aranha foi feita por Steve Ditko sobre as linhas de Kirby. As idéias básicas dos personagens, entretanto, resultavam de conferências entre os dois criadores. Os super-heróis de Lee e Kirby eram como as composições de Lennon e McCartney.

Os anos sessenta trouxeram um rápido desenvolvimento à arte de Kirby. E ele resolveu ilustrar apenas três títulos. The Mighty Thor, Fantastic Four e o revivido Capitão América em Tales of Suspense. Para qualquer outra pessoa, a quantidade de trabalho ainda seria enorme. Para Kirby, que normalmente fazia três páginas por dia, era moleza. E finalmente ele começou a se concentrar na qualidade e não na quantidade. Suas figuras ganharam nova solidez e simetria, seus cenários um novo tipo de grandeza. Ele começou a fazer experiências, usando páginas inteiras para um único quadro e às vezes até mesmo páginas duplas. A criação de maquinário fantástico e o uso de colagem (algo que tinha sido tentado antes nos quadrinhos por Eisner, mas nunca tinha sido feito seriamente até Kirby). A ambientação de Kirby se tornou granítica, massiva, representando os padrões mitológicos maiores que a própria vida, belamente alinhavados pelo roteiro de Lee. Os leitores agora tinham algo mais que feitos fantásticos e uniformes coloridos para olhar – eles ganharam o Poder puro, com “P” maiúsculo, a visão de Kirby dos super-heróis. Poder, afinal de contas, é o que os super-heróis representam. E os super-heróis Marvel tinham poder suficiente para ser qualificados como deuses.

E um dos personagens mais populares de Lee e Kirby era um deus – um deus nórdico, para ser exato – o Poderoso Thor. Inicialmente o Thor da Marvel era um médico aleijado terrestre chamado Donald Blake que, achando um bastão místico em uma antiga caverna é transformado em uma réplica do lendário deus do trovão. Quando batia o tal bastão no chão, Blake podia controlar a transformação à vontade. Com o passar do tempo o quadrinho progrediu e Lee e Kirby começaram a adicionar outros personagens mitológicos ao cast de Thor: Loki, o deus do Mal, Odin, o Pai Supremo dos Deuses, Sif, a deusa da Beleza entre outros. O próprio Thor começou a usar “vós” e “vossos” bíblicos, mudando a sua forma de falar. Os padrões mitológicos estavam se tornando ricos demais para permitir que um mortal como Don Blake fosse o personagem principal. Com o advento de Thor 159 (1968), Lee e Kirby modificaram seu conceito original dizendo que era Don Blake e não Thor que era fictício. Thor evidentemente tinha sido vítima de algum plano que o fez pensar ser um mortal e não Thor, enquanto o contrário que era verdadeiro. A solução foi bem tola e superficial, mas foi necessária. Uma vez quea linhagem de Thor foi estabelecida como sendo da realeza divina (ele era o príncipe dos deuses, o filho e Odin), nem mesmo o céu era o limite para o herói que Lee se referia com carinho como “cachinhos dourados”. Então todo um universo de deuses foi acrescentado ao título: Balder, o Bravo; Volstagg, Fandral, Hela, Hogun e muitos outros que fizeram o seu nome muito além da ponte do arco-íris que levava a Asgard. Se os super-heróis são os deuses de nossa época, o Thor da Marvel demonstrou que os deuses deveriam ser os super-heróis dos tempos passados.





Em 1970 Kirby trocou de lado mais uma vez, retornando para a DC. O diretor editorial Carmine Infantino ofereceu ao artista/escritor controle criativo total em qualquer título que ele decidisse fazer para a companhia, mais um ótimo salário. Kirby não só desenharia para Infantino, mas também escreveria e editaria. A parte da DC seria agir apenas como gráfica distribuidora e gerente de negócios. Nunca houve uma oferta como aquela na história dos quadrinhos. E ainda mais surpreendente foi o fato de Infantino contratar Kirby. O artista estava morando na Califórnia naquela época para tratar da saúde delicada de sua esposa. Morar em Manhattan era normalmente requisito para quem fazia parte do staff da DC. Infantino estava quebrando todas as regras. Jack Kirby tinha sido oficialmente reconhecido como a mais procurada força dentro dos quadrinhos.







O projeto inicial de Kirby na DC foi tão incomum quanto o seu contrato. Ele assumiu um dos títulos mais antigos da companhia, Superman’s Pal Jimmy Olsen, e criou três outros: The Forever People, New Gods e Mister Miracle. Os quatro títulos contavam uma única história – uma história de deuses, uma tetralogia mítica. Kirby postulou a existência de dois mundos (localização desconhecida) habitados por descendentes das antigas divindades mitológicas. Nova Gênese, o primeiro, era um planeta utópico governado pelo benevolente Pai Celestial. A sua população consistia de belos e bondosos deuses, incluindo Lightray, Metron, Speedback e os jovens do Povo do Amanhã (Forever People). Orion, o mais poderoso (e belicoso) deus de Nova Gênese na verdade havia nascido no mundo-irmão, o sombrio Apokolips. Apokolips era governado por Darkseid, uma criatura malévola e grotesca cujos terríveis servos incluíam o sádico torturador Desaad, a senhora do orfanato Vovó Bondade e o nojento Slig.

A tetralogia de Kirby mostra uma guerra entre os dois planetas. O líder de Apokolips está em busca da “equação anti-vida”, um segredo milenar que se esconde em algum lugar do planeta Terra. Quem o possuir ganhará o poder de escravizar o universo. Nova Gênese, é claro, se opõe a seu gêmeo mau e o principal campo de batalha é a própria Terra. O resultado é um épico que toca nossas almas precisamente porque os deuses de Kirby são representantes daquelas almas, que são desconstruídas, alter ego por alter ego, e examinadas sob uma fachada de entretenimento. Darkseid é, literalmente, nosso “lado negro” – aquela parte de nós faminta por poder e sempre buscando meios de dominação universal. O Pai Celestial é... Mas eu me adianto. Por enquanto basta dizer que descobriremos o lugar do Pai Celestial na filosofia de Kirby logo a seguir.

Cada um quatro títulos da tetralogia de Kirby examina o confronto entre Nova Gênese e Apokolips de uma perspectiva diferente. Em Jimmy Olsen, o famoso repórter junta forças com o Superman e o Guardião, o governo dos Estados Unidos e uma revitalizada Legião Jovem para lutar em uma batalha do nível “Terra contra os invasores”. Servos de Darkseid vinham fazendo experiências genéticas em nosso planeta, criando monstruosidades para lutar na guerra. O governo americano, por sua vez, havia montado a sua própria produção secreta de clones, criando os seres conhecidos como DNAliens. Jimmy Olsen, pego no meio dessa confusão, luta contra ela com sua esperteza e seus punhos. Ele é a representação visível daquele grupo que participa de todas as aventuras de Kirby – ele é o jovem leitor, que se projeta heroicamente na batalha.

The Forever People lida com uma equipe de deuses adolescentes de Nova Gênese que vem a Terra em busca de paz e acabam se tornando aberrações pelos padrões dos humanos e alvos para os soldados de Darkseid. Se as maneiras e guerras de Nova Gênese parecem estranhas para nós, The Forever People nos lembra que também somos estranhos para eles. Afinal de contas, as personalidades dos Novos Deuses são simplificações das nossas. A estranheza dos jovens deuses com a nossa complexidade emocional é uma ampliação de nossa própria inabilidade de mensurar a motivação humana.

Mister Miracle é mais ou menos um título “normal” de super-heróis, mas ainda assim o seu lugar na saga de Kirby é central. Ele mostras as aventuras de Scott Free, filho do Pai Celestial, príncipe de Nova Gênese que tendo sido criado em Apokolips, não tem certeza de onde é seu lugar. Ele não é um terráqueo, ele não é um membro maldoso da raça de Apokolips, mas mesmo assim  a sua infância perdida não permitiu que ele formasse vínculos com o seu mundo de origem. Ele acaba se tornando um artista de fugas por mera desorientação e acaso. Infelizmente, a maldade de seu passado e os sonhos utópicos de sua terra natal nunca permitem que ele descanse. O Senhor Milagre é o homem comum, lutando para equilibrar sua vida entre pecados degradantes e ideais inalcançáveis, Quando estava para escapar do planeta de Darkseid (Mister Miracle 9, Agosto de 1972), ele fica entre o terrível ditador que escraviza todos e uma figura crística, um “sonhador” visionário” chamado Himon:

Darkseid: Fique, guerreiro! Deixe-me completar a destruição de Scott Free – para que vocêr possa viver na majestade que é o poder de Darkseid! ... O jovem tolo continua! Ele luta para se levantar! Mesmo que ele deixe Darkseid ele ainda assim encontrará a morte!
Himon: Se ele deixar Apokolips ele encontrará o universo!
Senhor Milagre: Deixe-me ser Scott Free – e me encontrar! (1)





(1)  N do T.: Aqui Kirby usa um jogo de palavras. “scot-free” significa  “ livre”.

New Gods é o mais “mítico” dos quatro, já que ele trabalha mais diretamente com as sociedades e Nova Gênese e Apokolips. A história que vamos estudar aqui é de New Gods 7 (Março de 1972) e detalha os eventos que levaram a presente guerra entre Nova Gênese e Apokolips. Ela é, em outras palavras, um flashback. Também é rica em entusiasmo e filosofia kirbyana.

A primeira e mais duradoura impressão que temos da arte de Kirby é de poder. Na primeira página, mesmo enquanto em repouso, Izaya e sua elegante esposa Aria são mostrados de forma massiva e poderosa. O rosto de Izaya é quadrado como um bloco. Sua boca, fina e ampla, corre por dois terços de seu queixo. O seu nariz é perfeitamente, quase matematicamente, centrado em na sua face, como um crucifixo de ponta cabeça. Sua cabeleira negra é pesada, e suas sobrancelhas demoníacas lhe dão uma aparência leonina. Sua expressão, no entanto – o leve contorno em seus lábios, o movimento líquido em uma pálpebra – reflete o momento de paz que ele e sua companheira estão compartilhando.




As mãos de Izaya são enormes. Mesmo com os dedos colados um no outro, ele poderia bloquear todo o seu rosto com uma única mão. Os seus bíceps refletem também o poder de seu ser. Eles são arredondados, cortados aqui e ali por diagonais e pesadas meias-luas. Essas pinceladas firmes dão solidez aos braços de Izaya. Sem elas, os bulbosos apêndices do guerreiro poderiam ser considerados flácidos. Os mesmos padrões aparecem em suas pernas. Pesadas pinceladas em negro correm paralelas aos contornos das pernas, mostrando ao leitor um senso de firmeza e solidez.

E a constituição de Izaya teria que ser poderosa apenas para manter o seu vestiário. Faixas de metal e couro envolvendo seus ombros, cintura, braços e panturrilhas. Suas luvas são grossas e apertadas como se feitas de um material robusto. A clava de guerra que ele segura tem a ponta pesada e grande, mas ainda assim ele a mantém sem esforço em sua mão direita. A clava, a propósito, não é apenas a arma de Izaya, mas também um importante elemento do storytelling de Kirby. Nas páginas um a quatro a clava é o símbolo do papel protetor do guerreiro na sociedade. Izaya o carrega prevendo invasões, mas ainda assim, quando essa invasão ocorre, a arma é inútil para evitar a tragédia. Na página 15 ela se transforma em um terrível agente de vingança e destruição.




É a clava que destrói Steppenwolf, fazendo que Izaya sinta pesar e diga: “Esse é o modo de Darkseid!”. É a clava que vemos sendo apontada para nós na página 20, terceiro quadrinho, enquanto o guerreiro grita: “Se sou Izaya, o Herdeiro – qual é as minha herança?” E é a clava que é destruída pela Fonte no próximo quadrinho em uma explosão que engolfa tudo. Finalmente, ela é transformada no cajado de pastor que vemos Isaya, agora transformado no Pai Celestial, carregando na página 24. A atitude de Isaya sobre o conflito muda e vemos a filosofia de Kirby sobre a guerra, com a clava refletindo tanto a atitude quanto a filosofia.




Avia também se mostra poderosa aos olhos de leitor, mas (como não poderia deixar de ser) de uma forma feminina. Certamente ela não é uma menininha frágil. Os contornos de seus braços são mais suaves, menos rígidos dos que de Izaya. Seu rosto é amplo, simples, simétrico e belo. As linhas que passam por seus membros são suaves, diferentes das do seu marido, que parecem ser esculpidos na madeira. O seu cabelo está preso na nuca, como um leque, lembrando as penas de um pavão, dando-lhe aparência elegante e régia. Seu ombro encosta-se à armadura de seu marido. Ela tem uma figura sólida, mas mesmo assim suave.



O cenário é arquetípico: Paraíso, o Jardim do Éden. Apesar de Kirby dizer que o virtuosismo não o impressionava, ele parece ter um senso nato de simetria em suas composições. Uma linha projetada da clava de Izaya até o pulso de Avia se inclina para baixo, da direita para a esquerda. A linha de flores atrás do casal tem uma inclinação semelhante. Entretanto, esse padrão para baixo é contrastado pela queda d’água e o penhasco, fazendo que olhemos para cima. Da mesma forma, se projetarmos uma linha para fora do quadro, do dedo do pé de Izaya até a sola de Avia, essa linha se inclina de uma maneira diametralmente oposta a linha anterior, mais uma vez contrastando-a e equilibrando-a. Esse tipo de perspectiva é exibida em trabalhos posteriores de Kirby. É difícil, creio, ter Alex Raymond como influência e não se preocupar com a perspectiva.

“In the Beginning” (No Início) é a frase de maior destaque no quadro. É interessante notar que Kirby, que faz um pesado uso dos deuses subjetivos, pega tanto da tradição judaico-cristã, que insiste em um deus objetivo. Como Ludwig Feuerback, o famoso filósofo do século 19, Kirby vê a adoração dos deuses como a adoração dos homens:

As pessoas estão cometendo um erro quando elas pensam que estão tendo um interesse passivo na adoração dessas imagens. Creio que deve ter havido algum nórdico com um capacete enferrujado e uma barba cheia de lama sentado perto de um rio, se cocando... eles se parecia com um joão-ninguém e ele sabia disso, mas de alguma forma ele queria ter uma imagem melhor dele mesmo, então ele inventou Odin e Thor, Hércules e Sansão... e adorando aquela reflexão ele próprio se tornou maior, seu capacete se tornou mais brilhante e sua barba mais sedosa e ele foi capaz d atirar aquele raio e aquele trovão. E eu creio que isso não mudou muito, apenas que agora somos mais sofisticados para racionalizar isso um pouco melhor. 

Entretanto, Kirby não vê a adoração do Deus judaico-cristão dessa maneira. Ele não chegou a sua teoria graças as conclusões de Feuerback que teologia é antropologia. Kirby ainda mantém a crença que seu Deus, o Deus da Bíblia é objetivo e separado da humanidade. Essas duas visões diferentes de divindade fazem que Deus, para Kirby, seja um mistério insondável. Então, enquanto ele escreve ficção clara e concisa sobre deuses míticos, ele pode colocar o seu próprio Deus dentro de seu universo ficcional, mas em termos obscuros e sem forma. “A Fonte” é a Fonte que é a Fonte, assim como uma rosa é uma rosa que é uma rosa. Kirby deixa claro que mito, e não teologia, é seu forte.
É claro, Isaya é o Isaias da Bíblia. Mas ao contrário do profeta bíblico, Isaya parece nos ensinar sobre o homem e não sobre Deus. “No início os Novos Deuses não tinham forma e nenhum propósito” nos diz mais sobre a criação da sociedade pelo homem do que da vida por Deus. A pomba bíblica bem mal desenhada (Kirby nunca está à vontade com formas leves e com penas) é uma lembrança, ainda que não convencional, que as maneiras do céu têm apenas um lugar simbólico na saga dos Novos Deuses. Kirby realmente está escrevendo sobre os homens. Os seus deuses são tão corpóreos quanto a sua arte é massiva.

As páginas dois a quatro contém o tipo incrivelmente dinâmico de seqüência de luta que é típica de Kirby. Linhas simbólicas de stress aparecem em todos os lugares. Punhos parecem literalmente explodir quando fazem contato. Onomatopéias são projetadas para seguir os movimentos que elas representam. Por exemplo, na página 2, quadro 4, “Zok!” segue o movimento da mão de Isaya. Na página 3, quadro 1, “Braam!” está em paralelo com o movimento de Steppenwolf. Na página 4, o primeiro quadrinho tem um “Ffzzak!” que chega ao leitor ao mesmo tempo em que atinge o corpo de Avia. Finalmente, as figuras de Kirby são robustas, equilibradas. Pernas abertas. A mão esquerda centrada com a outra enquanto ela dá um soco. Nós nos banhamos na glória do homem versus o homem, como se estivéssemos assistindo um balé ou um replay em câmera lenta, frame por frame, de um evento olímpico. A experiência que Kirby teve com Max Fleischer lhe é realmente muito útil.




O gosto de Kirby pelo maquinário fantástico e intrincado aparece com as “luvas assassinas” de Darkseid na página 4. 





As páginas 6 e 7, com uma splash page dupla, dá testemunha disso. Aliás, as páginas duplas são uma especialidade de Kirby. E sempre tais páginas estão recheadas de violência poética. Só pelo tamanho, elas acentuam o choque e a reverência apresentada na cena dentro dela. A questão desses quadros para seu criador não é se eles devem ser usados, mas sim o quando. E Kirby é um mestre de saber quando. Aqui, seu quadro, maior que todos os outros quadros anteriores, introduz um conceito que é maior que todos os conceitos anteriores: a guerra cósmica entre duas raças de deuses.









A página 10, terceiro quadro, apresenta um dos mais intrigantes dos Novos Deuses, Metron. Kirby havia criado vários personagens similares a Metron antes de ir para a DC. Na Marvel, ele e Lee conceberam o Vigia, o sábio careca que viajava pelo universo apenas observando. Foi necessário o Quarteto Fantástico para deixar o Vigia preocupado o suficiente para se envolver. Igualmente, Kirby criou o Registrador em Thor. O Registrador era um robô que,  mais uma vez, observava sem se envolver: o historiador supremo. Metron, entretanto, é o exemplo supremo do “observador cósmico” do artista/escritor. Ele é a mais pura personificação do desejo do homem pela gratificação do conhecimento, do saber. A sua libido é orientada para a satisfação intelectual, não sexual. Então, ele não conhece nem respeita nenhuma lei além das da ciência. Ele não se interessa pelas artes, pelos deuses ou pela moralidade. Na página 11, terceiro quadrinho, ele diz:

“Eu não tenho ligação nenhuma com os velhos deuses – ou com os novos! Eu sou algo – diferente! Algo que não foi previsto – nem em Nova Gênese, nem aqui!”



Ele é, na verdade, a sociedade americana. Não é nossa uma cultura de realizações científicas? Nós honramos nossos filósofos, artistas e teólogos da mesma maneira que fizemos com os nossos magos financeiros ou astronautas? Darkseid poderia muito bem estar falando com Werner Von Braum sobre a bomba atômica quando diz:

“Você vai nos trair com o tempo, Metron! Mas isso, isso você deve construir... para nós!”


No final, Metron não construiria apenas o “limiar da matéria” para Darkseid, mas também o Trono Mobius. Com ele, o estudioso galáctico se transportaria centenas de vezes de Nova Gênese para Apokolips em busca de conhecimento. Ainda assim, Kirby é o primeiro a reconhecer que o progresso, o verdadeiro progresso “humano” só pode ser alcançado combinado ciência e arte. Em Mister Miracle 9, Metron encontra o “visionário” Himon e seu diálogo é extremamente revelador:

Metron: Salve, Himon! Mestre das Teorias!
Himon: Salve, Metron! Mestre dos Elementos!
Metron: As maravilhas que construo nascem de sua mente! As estradas pelas quais viajo são abertas por suas gigantescas percepções!



Como um artista americano, Kirby não gosta da sociedade que considera o trabalho que ele faz como secundário. E Metron é a representação visível desse desgosto.

A violência na história de Kirby alcança seu clímax bem antes de sua conclusão, com a morte de Steppenwolf na página 15. Isso é muito incomum em uma história em quadrinhos regular de herói versus vilão. Izaya assegura esse fato na próxima página quando, quando no quarto quadrinho ele diz a Metron: “Eu sempre soube! O verdadeiro inimigo sempre foi o obscuro e humilde Darkseid!”. 

Quase sempre em histórias em quadrinhos, o verdadeiro inimigo é alguém facilmente disponível para levar um soco no nariz ou ser jogado na prisão. As coisas não são tão simples assim em New Gods. Os personagens míticos de Kirby podem ser versões simplificadas de muitas facetas psicológicas do homem, mas sua saga lida com todas essas facetas em interpretações complexas. Izaya percebe que a destruição de Steppenwolf não é a cura para todos os males que atacam seu universo. O “lado negro” do homem é sutil demais, impossível de ser aniquilado por mera resistência física. É por isso que, na página 18, “dentro de Izaya de Nova Gênese, algo morre” com cada ato de guerra e violência. Ele clama:

Nós somos piores que os velhos deuses! Eles se destruíram! Nós destruímos tudo! Essa é a maneira de Darkseid! Para salvar Nova Gênese, eu devo encontrar Izaya!”

O mal deve ser combatido em todas as frentes, tanto dentro quanto fora do homem – e um equilíbrio deve ser encontrado nessa batalha ou a própria batalha vai fortalecer o que o guerreiro quer combater. Não se pode combater mal com o mal, guerra com mais guerra. Izaya e Kirby tentam nos mostrar uma maneira melhor.

Os dois quadros centrais da página 18 são compostos de maneira espetacular. Primeiramente vemos Izaya olhando para o universo. Ele não é mais o guerreiro orgulhoso que nós conhecemos nas páginas um e dois. Seu rosto está entrecortado com pesadas verticais, suas sobrancelhas parecem com cavernas negras. Seus olhos não têm pupilas, uma reflexão de sua alma perdida. Nós olhamos para ele com reverência, mas ele não nos percebe. Sua dor é grande demais para isso. Seu cabelo desgrenhado ainda lembra a juba de um leão, mas a sua mão fechada dá impressão que ele é a estátua de uma fera – uma esfinge, talvez. Ou um leão da Babilônia – se perguntando o que havia devorado a sua civilização, civilização que uma vez tinha sido grandiosa.  Ele enterra seu rosto nas mãos no próximo quadro e nossa perspectiva acentua o movimento para baixo de sua cabeça. O bravo e auto-suficiente deus da guerra tinha caído ao chão. Ele percebe que ele precisa se achar no que lhe torna verdadeiro. 




Izaya busca o positivo no esforço de combater o negativo da “anti-vida” de Darkseid. A Fonte, o Criador, Deus com “D” maiúsculo é esse positivo.  Assim como Deus judaico-cristão que a Fonte representa, ela sempre esteve lá, “esperando calmamente que Izaya se comunicasse”, esperando que o homem fizesse o seu primeiro movimento. Kirby tece uma complexa tapeçaria baseada nos padrões de história mitológicos gregos e nórdicos, enquanto a colocava sobre uma fundação de ideais judaico-cristãos. Somente a força física de Hércules, por exemplo, seria suficiente para destacá-lo de sua raça, transformando-o no deus da força. Mas Izaya deve transformar o seu ser inteiro, corpo e alma, antes de se tornar o Pai Celestial.


As últimas quatro páginas detalham a troca de herdeiros entre Izaya e Darkseid, uma linha de roteiro mitológico familiar. Mesmo assim, até mesmo aí Kirby injeta elementos bíblicos. O pequeno Scott Free é descrito por Darkseid como o “cordeiro” de Izaya, um animal destinado ao sacrifício. Cristo, é claro, era o “cordeiro de Deus”, sacrificado em um mundo de pecados. Como um adulto, o Senhor Milagre nunca se tornará o salvador de Apokolips. Até mesmo o próprio Cristo teria dificuldades em trazer a salvação para Sodoma e Gomorra. Ele se tornará, ao invés disso, discípulo de Himon e traçará um curso entre Nova Gênese e Apokolips.




Orion, por outro lado, é a antítese da figura de Cristo. Ele é o filho do demônio mandado aos céus. O mundo onde ele agora habita vai, no final, “salvá-lo” – ainda assim, essa salvação nunca será completa. Orion se torna o mais terrível, e ao contrário do que deseja o Pai Celestial, o mais sanguinário dos guerreiros de Nova Gênese. Ao contrário de Izaya, ele não pode esperar encontrar a paz encontrando a si mesmo. Ele é o filho de Darkseid. Ele é o produto do mal. Sua vida inteira será dedicada a combater o que ele é e tentar transformá-lo no que ele não é. De todos os Novos Deuses, Orion é o mais atormentado e o mais valente. Kirby passa mais tempo delineando a sua vida do que qualquer outro personagem em New Gods.





Em Abril de 1972, Jack Kirby deixou Jimmy Olsen. Logo depois Carmine Infantino decidiu que , apesar da enorme aclamação que a tetralogia (agora trilogia) de Kirby estava recebendo dos fãs de quadrinhos, os leitores casuais não estavam comprando as revistas. Os números das vendas se equilibravam precariamente entre sucesso e fracasso. Em novembro, a DC cancelou New Gods e Forever People. Mister Miracle vendia melhor que os outros (graças provavelmente ao seu roteiro mais calcado nos super-heróis) se segurou até Março de 1974, quando ele também foi cancelado. Kirby ficou arrasado. Ele ameaçou a deixar a DC, mesmo ainda com o contrato vigente. Joe Brancatelli, do Inside Comics relatou que o próprio Infantino atravessou o continente para aplacar o criador, em Los Angeles.

Em Setembro, Kirby imediatamente seguiu com The Demon, uma mistura entre monstros e super-heróis lidando com mitologia medieval (especialmente a lenda do Rei Arthur). O personagem principal, Etrigan, era uma criatura com intenções nobres. Ele era a criação e servo de Merlin, em Camelot. Quando o Reino de Arthur caiu, o mago salvou o Demônio dando-lhe uma forma humana, e fazendo que ele esquecesse o passado. The Demon 1 reconta a história da descoberta de Jason Blood que ele é na verdade algo mais que carne e osso. Suas aventuras vão até janeiro de 1974 quando, no número 16, elas também são vítimas do machado editorial.

A criação de Kirby para a DC que mais durou foi Kamandi, The Last Boy on Earth. Publicada inicialmente em Novembro de 1972, Kamandi tinha sido concebido anos antes e originalmente era para ser uma tira de jornal. A história é sobre a “Terra-AD” (After Disaster, Depois do Desastre) – uma época que, devido a experimentos científicos que saíram de controle, a natureza se rebela. Animais de todas as espécies caminham e falam como seres humanos e lutam uns com os outros entre as ruínas de uma civilização que havia sido poderosa. Os tigres são a mais importante força nesse mundo. Liderados pelo grande felino Caesar e seu filho Tuftan, eles estão em batalha constante com hordas bárbaras de macacos inteligentes. Os leões são guardas de caça, capturando humanos e os colocando em reservas. Os ratos são nômades que atacam as povoações de todos os outros animais em busca de comida e bebida. O Senhor Sacker, um velho e horrível réptil, toma conta de uma enorme loja de departamentos, vendendo mercadorias exóticas o suficiente para serem qualificadas como circo de horrores (humanos treinados são a especialidade de Sacker). Exceto pelos mutantes, Kamandi é o único homo sapiens inteligente que foi deixado vivo, e ele tem uma atitude de revolta enorme. Ele conhece o seu passado, sabe que todo o evento histórico que ocorreu na Terra AD foi influenciado por seus antepassados. Kamandi tenta, sozinho, restabelecer a glória que foi a raça humana. Kamandi durou 59 números, tendo sido cancelado pela DC Implosion em 1978.




Outros títulos que foram dados a Kirby, depois do fracasso de The Demon,  incluíam Our Fighting Forces e Justice Incorporated (estrelando o herói pulp de Lester Dent, o Vingador). A First Issue Special mostrou três novos conceitos de Kirby: Atlas, uma nova versão do Caçador (Manhunter) e The Dingbats, uma gangue de crianças. Nenhum deles decolou, entretanto. Em Janeiro de 1976 Kirby voltou para a Marvel Comics, onde mais uma vez ele escreveu e desenhou Captain America, junto com suas novas criações The Eternals, Devil Dinossaur e Machine Man, um spin-off de 2001: A Space Odyssey, um título que Kirby produziu por dez números. Então ele abandonou os quadrinhos para se dedicar a animação, produzindo os storyboards para, entre outros, a nova série animada de televisão Fantastic Four.






Assim como Eisner, Jack Kirby é um storyteller estilístico. Suas figuras e cenários servem para dar o tom dos grandes temas de seu trabalho. Ainda assim ao contrário de Eisner, o seu estilo não é adequado para muitos tipos de gênero. Gangues infantis, super-heróis e deuses são seus pontos fortes. Foi o estilo de Kirby que popularizou o gênero dos super-heróis nos quadrinhos. Seu trabalho na Era de Ouro foi estudado e copiado infinitamente por todos os grandes artistas de super-heróis. Até mesmo Bob Kane e Jerry Robinson começaram a desenhar o Batman em poses de luta kirbyescas: pés separados, o braço fazendo um arco em frente ao rosto, o torso inclinado para trás com a força do golpe. Ele se tornou tão influente que seus muitos imitadores acabaram o enterrando. O seu trabalho já não era mais único, 

O seu rápido desenvolvimento na Marvel nos anos sessenta, entretanto, o coloca na ponta dos artistas de super-heróis. Seu novo senso de tridimensionalidade e volume durante aquele período elevou o poder que seu trabalho inicial tinha a novas alturas. Mais uma vez, existiam imitadores de Kirby, como John Buscema, Gil Kane e Barry Smith, em seu primeiro estilo. Mas o “Rei” Kirby, como Lee o chamava, tinha um estilo que nenhum dos imitadores podia igualar. E mais, o trabalho de Kirby na Marvel (e depois na DC) estabelece, em termos estilísticos, o que Raymond havia feito em termos românticos: a tradição da história gráfica épica.









sexta-feira, 7 de novembro de 2014

The Brave and The Bold





O nome The Brave and the Bold, dentro da DC Comics se tornou o sinônimo de encontros (team-ups) de Batman e outro personagem da casa. Mas pouca gente sabe que B&B é um título muito mais antigo, que tem alguns eventos históricos dentro de seu run de 200 números. Foi nele que surgiram a Liga da Justiça da América (número 28, 1960) e a Turma Titã (54, 1964)  e a volta de Hawkman (34, 1961). Foi nele que Neal Adams começou a transformar o Batman, depois de uma fase camp gerada pelo sucesso da série com Adam West em 1966 em um personagem mais sombrio.  E foi também em B&B que Jim Aparo, um dos artistas mais associados com o Homem-Morcego, começou a desenhar o Batman.

E The Brave and the Bold pode também, foi durante um tempo,  um título de “entrada” para personagens mais obscuros, assim como a Showcase,  outro mítico título da editora.  Além disso, muitos personagens que haviam perdido seus títulos puderam encontrar refugio nas suas páginas.

O Início

Mas, ainda antes de tudo isso, ela foi uma revista de aventuras “históricas”, aos moldes da Valor, da EC Comics que havia surgido no início de 1955, meses antes do primeiro número da B&B. Três personagens faziam parte da B&B, a antologia: Príncipe Viking (ilustrado por  Joe Kubert), Silent Knight (Irv Novick) e Golden Gladiator (Russ Heath) . Golden Gladiator logo foi substituído por Robin Hood (ilustrado por Russ Heath).





Bob Kanigher era o editor de B&B nesse início do título, assim como o seu escritor principal.  Mas algumas histórias foram escritas por Bill Finger, France Herron e Bob Haney, que depois ficaria muito associado ao título.

Intermezzo

Enquanto isso, no final dos anos 50, a já citada Showcase estava sendo usada como um título teste e havia trazido de voltas novas versões da Era de Ouro, como o Flash e o Lanterna Verde. Então, em 1959, a partir do número 25, a B&B deu uma guinada e começou a imitar a Showcase e tentar um novo sucesso. Suicide Squad foi o primeiro, um título de guerra e espionagem de Kanigher, que depois de lacônicos três números (e mais uma tentativa em 1961) foi esquecido... Quando voltou na década de oitenta o conceito era bem diferente.  O primeiro acerto veio logo em seguida, no número 28 (1960) com a estréia da Liga da Justiça da América, de Gardner Fox e Mike Sekowsky, que ficou três números em B&B e ganhou título próprio.




Kanigher tentou novamente, com a criação de Cave Carson (número 31, 1960). Assim como aconteceu com Suicide Squad, logo desistiram do personagem (apesar de ter mais uma chance de dois números, em 1962. Outro sucesso no número 34, com a volta de Hawkman, de Garner Fox e Joe Kubert.  Três números consecutivos e depois a sua volta para mais três (42-44) antes de ganhar título próprio.





Mas apesar os sucessos com a Liga da Justiça e Hawkman, estava longe de ser a Showcase. E foi percebido que a editora não comportava dois títulos assim.

O editor Julius Schwartz então criou uma série dentro de The Brave and the Bold: Strange Sports Stories, que durou entre os números 45 e 49.Uma antologia bizarra que, como diz o nome, mostrava esportes estranhos, que iam desde times de baseball invisíveis a boxeadores fantasmas.




Foi também Schwartz que veio com a próxima ideia: encontros entre os super-heróis da casa. Ideia mais tarde copiada pela Marvel ( Marvel Team-Up e Marvel Two-in-One) e a própria DC (DC Comics Presents).

Mas,por incrível que pareça, o primeiro encontro não tinha o Batman.

A Era dos Team-Ups

O primeiro encontro de dois heróis em The Brave and the Bold foi nesse número 50, entre o Arqueiro Verde e o Caçador de Marte, inclusive com algo que veio se tornar a marca registrada da série: os logotipos dos dois heróis colocados lado a lado na capa.


Hoje, parcerias de heróis são algo extremamente comum, mas na época que essa B&B foi publicada era algo raro. Na Era de Ouro tivemos lutas entre super-heróis, como Namor contra o Tocha Humana. Ou  a Sociedade da Justiça, Os Sete Soldados da Vitória e os Jovens Aliados. Mas todos esses eram grupos. A exceção era World’s Finest, que tinha Superman e Batman. Mas mesmo World’s Finest era uma parceria contínua. Heróis diferentes a cada número é um conceito iniciado por The Brave and the Bold.

Uma coisa deve ser entendida. Por mais estranho que pareça falar isso nos dias de hoje, na época os personagens e títulos eram estanques. Fora de Justice League of America, parecia que os heróis da DC nem mesmo viviam em um mesmo universo. Quando B&B trouxe dois heróis distintos em uma mesma aventura foi algo totalmente novo.

É de se estranhar a escolha desses dois heróis para o primeiro team-up. Não eram, de forma alguma, pesos-pesados. A impressão que tenho é que eles estavam testando o mercado. Mas se foi realmente isso, já no próximo número (51) eles começaram a colocar os personagens mais conhecidos. Ao contrário dos do número anterior, Aquaman tinha seu título próprio na época e Hawkman estava em vias de ganhar o seu.



E aí se iniciou uma tendência, que mais tarde seria o mote da série com o Batman: os números subsequentes tinham sempre um herói com um título próprio. Assim, os  mais conhecidos (Flash, Mulher Maravilha) se encontravam com outros de não tanta relevância (Supergirl, Eclipso). Era como se o editor pensasse: “o leitor compra por Batman, mas damos a ele o Espectro. Isso pode gerar interesse e fazer que esse leitor busque mais histórias desse último”.

Quando os team-ups se iniciaram, B&B teve vários editores. Os primeiros cinco números tiveram edição de George Kashdan e Murray Boltinoff (com exceção de do número 52, com os heróis de guerra, editado por Kanigher). E Kashdan logo começaria a editar o título sozinho.



Uma miríade de artistas passou por B&B no período: Murphy Anderson, Alex Toth, Bruno Premiani, Ramona Fradon, Joe Kubert, Win Mortimer, entre tantos outros. Era impossível saber quem seria o próximo artista em B&B. A única certeza é que ele seria escrito por Bob Haney.




Haney começou na DC ainda no final dos anos 50, vindo de vários trabalhos para editoras como a Fawcett,Quality, Dell e Harvey. Na DC, ele trabalhou inicialmente nos títulos de guerra, tendo escrito histórias para a Star Spangled War Stories, All-American Man of War, Blackhawk e até mesmo Tomahawk (que tinha como tema a guerra da independência). Também havia escrito vários números de Aquaman, além de co-criar (com Arnold Drake e Bruno Premiani) Doom Patrol e Metamorfo (com a artista Ramona Fradon).




(Bob Haney, por Jim Aparo)






Aliás, Metamorfo foi responsável por interromper os team-ups, com dois números (57 e 58) apresentando o personagem.






Com a Batmania em alta (graças ao seriado) o personagem ganhou uma seqüência de aparições no título, antevendo o formato que ele adquiriria: uma revista de encontros de Batman com outro personagem da casa. 




Entra Neal Adams

The Brave and the Bold  foi o primeiro trabalho de Adams para o Batman. Neal Adams tinha feito pouca coisa nos quadrinhos, mas seu belíssimo trabalho em Ben Casey (uma tira de jornal inspirada na série de TV) logo fez que ele fosse percebido. Ele começou a trabalhar em The Spectre (que logo abandonou) e Strange Adventures (com Deadman, ou O Desafiador, no Brasil).

Em uma entrevista ao podcast de Kevin Smith, Fatman on Batman, Adams conta que ele queria desenhar o Batman. Então ele foi a Julius Schwartz e pediu para desenhar o título. Schwartz negou, já que ele tinha abandonado The Spectre (editado pelo próprio Schwartz) e trocado por Deadman, que tinha a edição de Jack Miller. Apesar de fazer algumas capas para a B&B, ele queria mesmo era fazer a arte interna. Então, ele conversou com Murray Boltinoff e pediu para fazer uma história, coisa que foi imediatamente aceita pelo editor.

No número 79 (1968), o início da colaboração de Adams e Haney tem em B&B tem Batman e (é claro), Deadman.



Adams já entrou com o pé na porta: alongou as orelhas do capuz de Batman e fez que a sua capa ficasse maior e mais esvoaçante, lembrando apropriadamente asas de morcego. E ele não dava muita bola para o roteiro de Haney. Se estivesse escrito “dia”, ele colocava a cena a noite, onde ele achava (com razão) que o personagem pertencia. Haney era inteligente o suficiente para perceber que essas mudanças eram obviamente para melhor, e começou a escrever histórias cada vez mais sombrias. Uma coisa deve ser dita sobre Haney: ele sabia aproveitar os artistas que ilustravam suas histórias.
A colaboração de Adams para a B&B se encerrou no número 86 (apesar dele ter voltado no número 93 para desenhar um script de Denny O’Neil, colocando Batman na Casa dos Mistérios).








Em sua curta estada em B&B, ele deixou uma marca indelével no título. Inclusive ele foi o responsável pelo novo visual do Arqueiro Verde, no número 85 (1969). A razão para Adams ter saído de B&B é simples: Schwartz percebeu que o melhor Batman da editora não estava nem em Batman nem em Detective Comics. Ele não pensou duas vezes e colocou Adams no título principal, onde ele começou o maravilhoso run com Denny O’Neil. Mas essa é, literalmente, outra história. 




Cronologia? Pra que cronologia?

Uma das coisas que Haney nunca respeitou em The Brave and  the Bold foi a cronologia. Bem, para sermos justos, a ideia cronológica quase que anal-retentiva surgiu para valer mesmo com o nascimento do Universo Marvel, em Fantastic Four 1, portanto ainda era muito recente na época e a DC ainda não havia sucumbido a ela. Sendo um escritor “as antigas”, partidário do “se a cronologia atrapalha uma boa história, ao diabo com a cronologia”.

Isso fica muito claro no número 84, em “The Angel, the Rock and the Cowl”, que mostra o Batman dos anos sessenta e o herói da Segunda Guerra Mundial, o Sargento Rock. Haney mostra um jovem Bruce Wayne em seus primeiros dias como o Batman, ajudando Rock e a Companhia Moleza  em uma missão. Então, no momento em que a história começa, no tempo presente (final da década de sessenta), o Batman já teria quase cinqüenta anos. Considerando que a DC no período havia congelado tanto o Batman quanto o Superman nos seus eternos trinta anos, é um anacronismo, para dizer o mínimo.




E não foi só isso. Wildcat, um herói da Terra-2, apareceu no número 88 em uma história que teoricamente se passa na Terra-1. E como Haney gostava do personagem, ele apareceu ainda em quatro (!) outras edições, criando mais confusão. Logo os fãs começaram a dizer que as histórias de B&B se passavam em outra Terra, a Terra-“B”. O “B” pode ser de “Boltinoff”, “Bob” (Haney) ou “Brave and Bold”. Ou todos eles.




Apesar disso, várias das histórias de Haney tiveram repercussões fora de B&B. Por exemplo, além da já citada mudança de visual do Arqueiro Verde, tem Bruce Wayne encontrando o irmão de Joe Chill, o homem que havia matado seus pais (no número 79, aquele primeiro de Adams). 



Jim Aparo, o artista supremo de The Brave and the Bold

Em 1970, Murray Boltinoff colocou um novo artista no título para substituir Adams, Nick Cardy. Cardy já havia trabalhado com Haney em Aquaman e Teen Titans. Ele fez os números 91, 92 e 94 a 96. A fase de Cardy é extremamente apreciada pela maioria dos leitores. Ele mais uma vez reduziu as orelhas e capa de Batman, mas o seu estilo combinou com os roteiros urbanos de Haney. E seu talento para desenhar mulheres foi aproveitado pelo escritor.






Cardy saiu do título em 1971, deixando Boltinoff mais uma vez atrás de um desenhista fixo para B&B. E a resposta estava bem de baixo do seu nariz.

Jim Aparo começou a trabalhar na DC no final dos anos sessenta, vindo da Charlton (onde havia desenhado inclusive The Phantom). Ele fez um longo arco de Aquaman, envolvendo o desaparecimento de Mera, a esposa do senhor dos mares. Ao mesmo tempo, ele fazia The Phantom Stranger.

Então, quando o personagem fez uma aparição no número 98 (1971), Boltinoff o chamou para desenhar a história.



Aparo nunca havia desenhado o Batman antes, mas quando o fez foi espetacular. O seu Batman era definitivamente  mais esbelto que o de Cardy e se aproximava do de Adams, o qual injustamente foi acusado de ser um clone. Nada mais longe disso. Ele tinha um estilo próprio e totalmente reconhecível. Ele conseguia retratar os personagens da DC de uma maneira primorosa, e mesmo aqueles que tinham uma forte identidade visual com seus criadores e/ou artistas principais, como o Flash (de Carmino Infantino), Kamandi, Etrigan ou Mr Miracle (de Jack Kirby) ficavam maravilhosos em seu traço.





Seu storytelling era cinematográfico, com movimentos e cortes de câmera extremamente dinâmicos. Além disso, ele fazia a sua própria arte-final e letreiramento (inclusive as onomatopéias).
Bob Brown voltou com B&B 99. Mas Boltinoff, como não poderia deixar de ser, ficou encantado com o trabalho de Aparo. E então, no centésimo número, ele e Haney começaram uma das mais duradouras parcerias dos quadrinhos. E o artista, que preferia trabalhos mais low profile foi catapultado para a posição de artista principal do título do Batman que mais vendia no momento.
Mais uma vez, Haney mudou a sua versão do Batman. Desde que O’Neil e Adams tinham o deixado mais sombrio, esse era o tom. Apesar do Batman de Haney não ser uma versão em papel de Adam West, ele não era sério (ou sombrio) demais. Haney, parece-me, entendia que a mídia não podia ser totalmente voltada para adultos. Ou crianças.





Além disso, o seu Batman era, como descrito por um crítico, um “James Bond de capuz” nesse período Haney/Aparo. Ele viajava pelo mundo e lutava contra terroristas, cientistas loucos, espiões, seqüestradores e, por que não, demônios, sacerdotes vudu e super-vilões. O senso de entretenimento nunca foi tão grande quanto naquelas histórias de Batman em B&B, não importando se ele estivesse em Gotham, Timbuctu ou no espaço.



E, é claro, mais uma vez Haney estava se lixando para a continuidade, se importando apenas com a história.

Por exemplo, em B&B 106, Oliver Queen, o alter ego do Arqueiro Verde é mostrado como um milionário. Mas já tinha sido mostrado nas páginas de Justice League of America e Green Lantern que ele havia perdido a sua fortuna.

E no número 124, possivelmente a mais estranha de todas as histórias. Batman e o Sargento Rock encontram... Jim Aparo. A quarta parede é quebrada em uma das mais marcantes histórias de todo os 200 números de B&B









É claro, isso gerava cartas de fãs irados, mas Haney era apoiado totalmente por Boltinoff. Afinal, ele sabia que o título vendia bem por causa de (ainda que não só por isso) da parceria Haney/Aparo.

Descansando à sombra de louros

Pelo número 128, o título não estava tão bem das pernas, já que tanto Haney quanto Boltinoff começaram a usar team-ups apenas de personagens mais familiares. O Arqueiro Verde apareceu várias vezes (não é a toa que na série animada ele é um personagem constante). O mesmo ocorreu com o Wildcat, o Coringa e o Sargento Rock. Boltinoff então foi substituído por Denny O’Neil no número 132, mas sua passagem foi curta, saindo no 139. Ele foi substituído por Paul Levitz.









Levitz era o editor dos outros bat-títulos, Batman e Detective Comics. Era de se esperar que ele trouxesse o Batman de B&B para mais próximo dos que editava. Mas em sua primeira declaração como editor, ele disse que “Haney e Aparo só sairiam do título “sobre o meu cadáver”.

De qualquer forma, ele re-energizou o título. Os números 142 e 143 (1978) mostraram uma história em duas partes, com convidados diferentes em cada um deles (Aquaman e Creeper, respectivamente). Além disso, O Alvo Humano, de Len Wein e Dick Giordano (que antes eera publicado na Action Comics) começou a aparecer em back-ups no título, antes de migrar para a Detective Comics.





No número 145, The Brave and Bold passou a ser mensal. E no número 150, uma edição especial, nós temos “Batman e...?” em uma tentativa de fazer o leitor tentar descobrir quem era o convidado, que acaba sendo o Superman, velho parceiro da World’s Finest, em sua única aparição em B&B. E uma oportunidade única dos fãs verem a versão de Jim Aparo para o Homem de Aço. 


Haney continuou a escrever boas histórias, mas continuava a ignorar como o Batman era caracterizado em outros títulos. Levitz começou a pedir que outros escritores, como Mike W. Barr e Cary Burkett “consertassem” os scrips. Obviamente, isso não foi do agrado de Haney. O passo seguinte foi o mais lógico: Haney é substituído, apesar da declaração de Levitz quando assumiu o título.

Então, com o número 157, de dezembro de 1979, Bob Haney, o escritor que definiu o título se despede de The Brave and the Bold. Foi o fim de uma era.



Na introdução de  Batman Illustrated by Neal Adams, o artista comenta sobre Haney: “Apesar de não terem o reconhecimento que elas merecem, as histórias de Bob Haney são clássicos na tradição dos super-heróis, com seus dramas e densidade no roteiro, com mudanças surpreendentes. Haney nunca será pago o suficiente em vida pela sua contribuição para o gênero. E isso é uma vergonha”.

Haney continuou escrevendo Unknown Soldier até o seu cancelamento, em 1982. E sumiu das páginas da DC. Depois de trinta anos colaborando com a editora, ele simplesmente se tornou mais uma página virada. Ele recebeu o Bill Finger Memorial Award for Excellence in Comics Writing , dado pela comissão dos prêmios Eisner, em 2011. Infelizmente, ele havia morrido em 2004, com 78 anos.

O fim

The Brave and the Bold continuou até o número 200, de Julho de 1983. Mas apesar de ser ilustrado principalmente por Aparo, a mágica tinha acabado. Ele tinha se tornado, apesar da quantidade de escritores que passaram por ele, um título previsível e formulaico. Uma das poucas exceções é o ótimo número 181, de Alan Brennert (que foi trazido para o título por Dick Giordano, quando ele assumiu a editoria do título. Brennert foi escritor de vários programas de TV, incluindo Buck Rogers in the 25th Century).

Nesse número, Batman encontra Rapina e Columba e, na tradição de Haney, ignora muito da cronologia, mostrando-os como adultos, sendo que os seus colegas Titãs, em outros títulos da época continuavam adolescentes. Santa Ironia, Batman!



No final de1982, Len Wein se tornou o editor de B&B, substituindo Dick Giordano. Na época já existiam rumores que o título seria cancelado, o que foi confirmado por Wein no número 195. The Brave and the Bold, naquele período que os quadrinhos estavam mudando, se tornou um anacronismo, sendo considerado um fóssil pela maioria dos leitores.

Então com o número 200, uma edição de 68 páginas em uma história de Mike W Barr e desenhos de Dave Gibbons que colocava o Batman da Terra-1 e o da Terra-2 em uma aventura em dois períodos diferentes, a edição deu adeus.




O Legado

The Brave and The Bold gerou todo um novo estilo de quadrinhos, os títulos de team-ups. A Marvel usou e abusou do formato. A DC lançou em 1978 a DC Comics Presents, com o mesmo formato, mas usando o Superman, que durou  97 números e quatro anuais, de 1978 a 1986.

Em 2008, estreou o desenho animado de mesmo nome, com três temporadas e 65 episódios, em uma das mais interessantes versões animadas de Batman.

Em 2007, a DC lançou o segundo volume da série, inicialmente com o roteiro de Mark Waid e desenhos de George Pérez. A série durou 35 números, terminando em 2010.

Mas acima de tudo, The Brave and The Bold foi um título que mostrou que os quadrinhos podiam ser divertidos, com um alto valor de entretenimento. Sem amarras, sem  preocupações. E no final, essa foi a sua maior ousadia.

Bravo.

Serviço

As histórias  (ainda que não todas) de The Brave and the Bold podem ser lidas em vários reprints. Os melhores são em três volumes do Showcase Presents (edições em preto e branco com mais de 500 páginas) e  em dois volumes em capa dura chamados The Legends of the Dark Knight: Jim Aparo.

No Brasil, B&B teve histórias publicadas pela EBAL. A fase “histórica” como backups em vários títulos e os team-ups se espalhando por vários, títulos, o mais notável deles Superduplas (com 24 números, de 1978 a 1980. A editora Abril também chegou a publicar algumas histórias no primeiro volume de Batman, em 1984.

Agradecimentos ao Toni Rodrigues. Essa é para você, Toni.