Prata e Bronze

segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Thanos: Amor e Morte, Peter Sanderson


Essa matéria foi publicada originalmente na Back Issue 9, de Abril de 2005. Peter Sanderson conversa com Starlin sobre Thanos, possivelmente a sua maior criação. Espero que gostem da tradução. 

De todos os personagens criados por Jim Starlin durante suas três décadas nos quadrinhos, qual seria o seu personagem favorito? Você pode tentar adivinhar e dizer que é um dos seus heróis, como Dreadstar e Adam Warlock. Mas e sua preferida, em termos de vilões? Será que ele gosta mais de Thanos que dos outros?

"Ah, claro que sim", responde Starlin. Ele explica: "Você é limitado pelo que o mocinho pode fazer. Por mais estranho que Adam Warlock seja, há certas coisas que ele não faria. Thanos? Bom, não existe nada que Thanos não faça para vencer".

Entre todas as muitas histórias que Starlin escreveu com o seu icônico vilão, a sua favorita é Thanos Quest. "Ele está extremamente implacável ali", diz ele.




Starlin avisa: "Eu não sou uma pessoa má. Não fico andando por aí com uma capa preta ou coisa do gênero". Mas apesar disso, ele acrescenta alegremente, "eu adoro a maldade de Thanos. Eu adoro escrever sobre o mal". E Thanos dá várias oportunidades para isso. Mas, como veremos, há muito mais no vilão de Starlin que apenas vilania.

Separados na Maternidade? 

As primeiras impressões podem ser enganadoras. Os leitores podem supor que Starlin criou Thanos como uma homenagem a outro arqui-vilão de rosto granítico dos anos setenta, Darkseid, de Jack Kirby.

Mas vocês estariam errados. Starlin concebeu Thanos muito antes de Darkseid aparecer nos quadrinhos. "Foi antes de eu ir trabalhar em Nova York, para a Marvel. Eu estava assistindo aulas de psicologia e brincando com personagens", ele diz. Thanos e seu irmão Eros (que mais tarde veio ser conhecido como Starfox) foram inspirados pelos estudos de Starlin dos conceitos de Sigmund Freud sobre o instinto da morte e o desejo sexual. "Eu, na verdade, acho que os desenhos originais de Thanos  predatam o advento dos Novos Deuses, diz Starlin, "porque Kirby estava ainda fazendo isso quando eu estava indo para a Marvel".

"Na verdade, Thanos naqueles sketches parecia muito mais que Metron, de The New Gods do que Darkseid", revela Starlin,  apesar de que Metron não tinha aparecido ainda também. Em parte isso é porque Starlin havia descrito Thanos como alguém "sentado em uma cadeira que nós usamos mais tarde em Silver Surfer", quando o Thanos apareceu por lá décadas depois (Kirby deu a Metron o "Trono Mobius" como meio de transporte). Esse primeiro Thanos também parecia com Metron porque ele era consideravelmente mais esbelto que o Thanos que conhecemos hoje.

Starlin teve a oportunidade de introduzir Thanos no Universo Marvel graças a sua associação com Mike Friedrich, que começou a ser notado porque aparecia sempre nas seções de cartas da década de sessenta e depois se tornou um escritor profissional de quadrinhos. "Nós estávamos dividindo um apartamento em Staten Island na época", diz Starlin. "Em um certo momento ele precisava de uma ideia para um novo número de Iron Man", lembra Starlin, e perguntou a Jim, "'o que você gostaria de fazer?' e eu disse, 'bom, eu tenho esses personagens'. Eu acho que na época Mike estava escrevendo cinco títulos, então ele me deixou fazer aquele em particular. Então eu comecei a desenhar a história. Lembro que Mike rearranjou algumas das páginas iniciais a história, mas foi isso. Ele só foi trabalhar mesmo nela depois que ela estava desenhada e na fase dos diálogos".

 Mas Starlin teve também alguns valiosos conselhos sobre Thanos, vindos do então novo editor-chefe da Marvel, Roy Thomas. "Quando Roy o viu, ele disse 'Deixe ele mais forte!'", diz Starlin. "E ele pareceu mais ameaçador daquela maneira. Então eu deixei ele mais forte ainda na primeira história em Iron Man, e ele foi ficando cada vez maior com o tempo".

Apesar de Starlin ter criado Thanos antes dele ter sequer ouvido falar de Darkseid, a Marvel, ele diz, viu o potencial do personagem como um rival para a criação de Kirby.

"Nós poderíamos atacar os Novos Deuses de Kirby, com o qual eles estavam um tanto aborrecidos na época", diz Starlin. Aparentemente a Marvel ainda não tinha engolido a então recente partida de Kirby para criar os títulos do "Quarto Mundo" na  DC. Mas Starlin não fez perguntas sobre a mágoa da Marvel com a deserção de Kirby. "Eu nunca entrei no assunto com eles porque eu era um grande fã de Kirby e não queria ouvir nada ruim sobre ele."

Então Thanos fez a sua estréia em Iron Man 55, com a data de capa de fevereiro de 1973, junto com seu pai Mentor, seu irmão Eris e seu obcecado nêmese Drax, o Destruidor. Agora, esses outros personagens de Starlin foram inspirados pelos Novos Deuses de Kirby? "De forma alguma", diz Starlin. "O Destruidor, que também foi criado naquela época, foi inspirado em uma tira que eu estava fazendo chamada Dr Weird with the Texas Trio. Eu redesenhei o uniforme do Dr Weird e gostei tanto que dei um jeito de colocá-lo na história do novo grupo de personagens que estava aparecendo pela primeira vez em Iron Man 55".



Mentor, Drax e Eros podem ter papéis similares aos do Pai Celestial, Orion e Lightray, dos Novos Deuses, mas parece que Starlin estava lidando com os mesmos arquétipos que foram trabalhados por Kirby, os dois seguindo caminhos paralelos. Apesar de que com Eros, Starlin diz que ele queria apenas o reverso da medalha de Thanos. "Eu só precisava de um contraste. E com Mentor, bem, eu realmente nunca soube o que eu realmente queria com ele (risos). Ele passou pela série de uma maneira bem canhestra, sendo apenas o chefão".



Sobre Thanos, Starlin continua: "Na verdade, eu fiz questão de que ele fosse diferente. Thanos sempre foi muito mais ativo que Darkseid. Eu fiz que ele se movimentasse, fazendo o trabalho sujo ele mesmo, enquanto Darkseid estava sempre nos bastidores e deixando o trabalho para seus capangas".



Mais ainda, Darkseid e Thanos representam dois tipos muito diferentes de mal. "Eu penso em Darkseid como a encarnação do fascismo". Para Starlin, o mundo de Darkseid, Apokolips, representa "o estado corporativo que se tornou mau" ou até mesmo um campo de concentração em um planeta inteiro, "enquanto que Thanos funciona em um nível muito mais niilista".

Colocando de uma outra forma, Darkseid busca a Equação Anti-Vida, que permitirá que ele controle todos os seres vivos com uma única palavra. Em contraste, Thanos vem repetidamente lutando, não para controlar os seres vivos mas sim para destruí-los. Ele literalmente serve a morte.

Por uma estranha coincidência, Starlin acabou morando em uma área da Cozinha do Inferno em Manhattan perto de um restaurante grego chamado "Thanatos". "Eu já estava fazendo Thanos em Iron Man quando eu me deparei com aquele lugar", diz Starlin. "Eu nunca tinha ido naquela direção antes. Era umas quatro quadras de onde eu viria a morar. E a grafia é diferente, 'Thanatos' e não 'Thanos'"

(Fãs de Sandman, anotem: na mitologia grega Thanatos era o irmão - não a irmã! - de Morfeus, o deus do sono)

Nascimento de um Titã 

Originalmente, Starlin apresentou Mentor, Eros e Thanos como descentes dos titãs dos antigos mitos gregos. Banidos da Terra por Zeus, os titãs se estabeleceram em Titã, a lua de Saturno. Mais tarde, em um período que Starlin não estava trabalhando para a Marvel, essa história foi revisada. Agora os Titãs de Starlin eram descendentes dos Eternos, a raça super-humana criada por Jack Kirby. Starlin aceitou a ideia: "Eu tento não jogar fora as coisas de outros escritores, então eu tive que dar um jeito de incorporar isso. E eu acho que isso não prejudica o mito."

Thanos, o filho mais velho de Mentor (o regente de Titã), nasceu com a "síndrome do Deviante" (uma referência a raça-demônio da série Eternals, de Kirby), que deu a ele uma imagem monstruosa. Isso transformou Thanos em um pária, desprezado pelos outros Titãs. Ele então percebeu que seu irmão mais novo, Eros, seria o herdeiro de Mentor.

Starlin explica: "Eu estava pensando como isso poderia afetar uma pessoa. Você tem uma bela família e você acaba se parecendo um monstrengo. Isso certamente mexeria com você e você nunca se encaixaria no ciclo da vida"

La Belle Dame Sans Merci

Para onde iria Thanos? "Então, o oposto da vida é a morte. Seguindo essa ideia, a suprema obsessão seria ele realmente se apaixonar pela Morte". E no Universo Marvel essa é uma possibilidade literal.

O jovem Thanos encontrou conforto na presença encapuzada de uma figura que acabou sendo a Senhora Morte, a personificação literal da mortalidade no Universo Marvel. Com o tempo ele se apaixonou poer ela e a percebe como uma mulher idealmente linda, cheia de vida. Mas para os outros personagens (e para nós, leitores) a Senhora Morte aparece como um esqueleto envolto em um robe, impassiva, muda e inescrutável.

Esse é, é claro, o supremo romance disfuncional. Ele não pode ser consumado sexualmente. "Thanos é, na maior parte do tempo, um personagem assexuado", Starlin comenta. (Ou seja, para vocês que estão se perguntando, Starlin afirma que Nebula, a pirata espacial que alegava ser a neta de Thanos estava mentindo. "No meu universo, ele nunca teria progênia".)

Starlin também diz que a Senhora Morte pode ser mais uma mãe substituta para Thanos que uma amante. "Uma mãe ou alguém que pune. Há um elemento definitivo de sadomasoquismo no personagem."

Perceba como Thanos se humilha repetidamente perante ela, passivamente buscando a aprovação dessa passiva entidade. "Creio que ela o trata exatamente da maneira oposta que que ele deseja", diz Starlin rindo. "Quando ele a procura, ela o rejeita, e quando ele fala para ela não o perturbar é quando ela mais tem interesse nela".



Então, a obsessão de Thanos como a Senhora Morte é completamente autodestrutiva. "Noventa porcento do que Thanos faz é autodestrutivo", diz Starlin. "Infelizmente há muito dano colateral na sua psique". Na época que Thanos estava cortejando a Morte, esse "dano colateral" significava massacrar milhares, milhões e até mesmo bilhões de seres vivos, buscando um "genocídio cósmico". Existe uma maneira melhor que agradar a sua senhora desdenhosa que fazer tais oferendas a ela? (A propósito, Starlin gosta da versão mais charmosa da Morte feita por Neil Gaiman em Sandman, da DC. "Eu acho que ele teve uma ótima sacada nisso").

Deuses e Monstros

Thanos e a Morte são personagens muito diferentes daquilo que o leitor normalmente associa a um personagem tradicional da Marvel, como Peter Parker, um cara normal que também é um super-herói em Nova York. Thanos é membro de um de uma raça de seres quase divinos. Além disso, ele foi criado para representar um impulso psicológico que o atrai para a Morte. O falecido Mark Gruenwald considerava a Senhora Morte como um dos "seres conceituais", como a Eternidade. E Starlin criou outros personagens assim como o Lorde Caos e o Mestre Ordem, personificações de princípios universais.

Starlin explica que ele foi influenciado por Roger Zelazly e outros escritores de ficção científica dos anos setenta que lidavam com personagens com poderes divinos.



"Eu sempre gostei de figuras míticas. E eu odeio desenhar carros ou cavalos. Então eu tenho a tendência de me afastar da realidade do dia a dia o mais rápido possível sempre que faço uma história. Partindo para uma coisa que é mais abstrata, mais conceitual, sempre me pareceu a melhor maneira de ficar confortável".

Em sua grandeza e ambição para superar Deus, Thanos parece com Satã em Paraíso Perdido, de John Milton. Apesar de Starlin gostar de mostrar Thanos como "mau" ele também diz que "o 'mal' é um termo subjetivo, de qualquer forma. Ele não é como um assassino em série que sempre algum tipo de propósito em mente. Pode ser interpretado como monstruoso, mas em seu universo é a maneira de fazer as coisas. Então, sim, eu acho que Satã em Paraíso Perdido é uma boa comparação, e na verdade ainda mais que Darkseid".

Obrigações com a Morte

Mentor acabou banindo Thanos de Titã após um experimento proibido que acabou matando algumas de suas cobaias. A amargura de Thanos cresceu durante seu exílio de um século e se vingou voltando e massacrando virtualmente toda a população de Titã. Por pura sorte, Mentor e Eros não estavam no planeta no momento, mas a mãe de Thanos, Suj-San, foi morta no ataque. Em seguida, Thanos conquistou Titã. Mas foi expulso daquele mundo pelo implacável Drax, o Destruidor. Drax estava sendo mantido prisioneiro na Terra por Thanos, mas conseguiu contatar telepaticamente o Homem de Ferro, que o libertou na primeira aparição de Thanos, em Iron Man 55.

Starlin ficou famoso na marvel com seu trabalho em Captain Marvel, e ele trouxe para o título Thanos, nos números 25 a 33. Nesse arco, o titã fez a sua primeira tentativa de ganhar o poder absoluto, usando um Cubo Cósmico, o poderoso objeto que transforma pensamentos em realidade e assim ele visava alcançar a a "divindade onipotente". Mas Thanos escolheu, tendo uma confiança enorme em si mesmo, brincar com o Capitão Mar-Vell. O bom capitão aproveitou a oportunidade e esmagou o Cubo Cósmico, acabando com a recém adquirida "divindade" de Thanos.




A série mais conhecida de Starlin na década de setenta foi Warlock, e mais uma vez Thanos pegou uma carona. Inicialmente, Thanos era aliado de Adam Warlock contra a contra-parte maligna do último, o Magus. Mas o verdadeiro plano de Thanos era usar seis objetos de poder, mais tarde chamados de Jóias do Infinito, e destruir todas as estrelas do Universo. Warlock, Mar-Vell e os Vingadores juntaram suas forças para impedir Thanos, que assassinou Warlock (em Avengers Annual 7), mas o espírito de Warlock retornou e transformou Thanos em pedra (em Marvel Team-Up Annual 2).




A Senhora Morte ressuscitou o seu leal adorador nas páginas de Silver Surfer 34-35, e Thanos impiedosamente tomou controle das seis Jóias do Infinito na clássica minissérie de 1990 de Starlin, The Thanos Quest. Thanos colocou as jóias em sua luva, então criando a Manopla do Infinito. Infinity Gauntlet foi a minissérie de seis números de 1991, na qual ele ressuscitou Adam Warlock, que junto com o Surfista Prateado e outros heróis Marvel, se uniram para tentar impedir o mais uma vez onipotente Thanos. Esperando agradar e impressionar a Senhora Morte, Thanos acabou com metade da vida do universo, mas ainda assim ela o rejeitou. Mais uma vez a superconfiança de Thanos em si mesmo foi a sua ruína: ele não se livrou de sua herdeira Nebula e ela tomou o controle da Manopla e a usou para desfazer o massacre de meio cosmos perpetrado por Thanos.




Thanos pode conscientemente lutar para obter o poder supremo, mas como Starlin aponta "subconscientemente existe uma coisa muito diferente acontecendo ali. Ele sempre desiste no final das contas". Mas por que? Porque, como sugere o próprio Adam Warlock, Thanos não se sente digno de manter o poder divino? "Digno é algo que ele nunca se questionaria", diz Starlin.




Então por que? Starlin explica: "Toda a vez que ele alcança o poder supremo, ele não o retem porque ele sabe que não é o que ele realmente precisa".

O Velho MacThanos Tinha Uma Fazenda

O que ele realmente precisa, então? Na surpreendente conclusão de The Infinity Gauntlet, Thanos adota uma nova vida como um simples fazendeiro em um planeta isolado, dizendo que ele desistiu de sua busca pelo poder absoluto.

De assassino em massa em uma escala cósmica para um pacífico cultivador do solo? Certamente isso vai de um extremo a outro. E essa era exatamente a função de Starlin.



Perguntado da razão de Thanos ter se tornado obcecado com a Senhora Morte, Starlin responde, "Bem, ele é um personagem obcecado. Ele não é um personagem de meios termos; ele vai a extremos. Eu sempre achei que se ele fosse em qualquer direção ele iria até o lado mais extremo que ele pudesse e daí ver o que eu poderia fazer com uma história assim". Então é por isso que Thanos funciona em uma escala operática, tornando-se obcecado pela Morte, massacrando bilhões, tentando tornar-se Deus (e até mesmo conseguindo). Ainda assim, no final das contas, Thanos sempre deixa que o poder infinito escape de suas mãos porque "na verdade, não é o que ele precisa".

Sobre o final de Infinity Gauntlet, Starlin diz, "Bem, naquela época eu percebi que usá-lo apenas como um vilão não era realmente o que eu queria. Porque ele era interessante demais para ser usado de uma forma bidimensional, um personagem que queria conquistar o universo, especialmente depois que ele realmente já tinha o conquistado e acabado com a metade dele".

Mas você pode realmente imaginar Thanos ficando contente como um humilde fazendeiro? Isso não é outro extremo insatisfatório? "Bom, você pode notar nas histórias onde ele era fazendeiro que ele tinha um gigantesco laboratório no seu porão", diz Starlin. Então, literalmente "sob" a vida pacata de Thanos. "É isso o que ele realmente estava fazendo, a direção que ele estava se encaminhando", frisa Starlin.

No que diz respeito a Starlin, Thanos finalmente superou a sua obsessão com a Senhora Morte."Bem, eu sei que eu tive alguns relacionamentos bem ruins durante os anos, os quais, se eu tivesse usado minha cabeça, eu teria evitado. Creio que qualquer um teria. Eu não posso deixar de imaginar que Thanos teria chegado a conclusão que o seu relacionamento era um erro sério".

Starlin diz que a razão da separação de Thanos e da Morte é graças ao talento do primeiro para a "auto preservação". Ele nota, "Ele sempre teve isso. Quantas vezes a garota má pode te dar um chute na bunda até que você percebe que vai ser sempre assim?"

Infelizmente, Thanos se encontrava na mesma situação que Michael Corleone em o Poderoso Chefão 3. Starlin observa que Thanos fica sendo trazido de volta para essas coisas, muitas vezes por forças de fora que não tem sabedoria suficiente para deixá-lo em paz".

Então, ele acaba ajudando Adam Warlock e outros heróis da Marvel em outra de suas minisséries, com crossovers escritos por Starlin. Em The Infinity War (1992), Thanos lutou com a contra-parte maligna de Warlock, o Magus; em The Infinity Crusade (1993), Thanos ajudou a combater a Deusa, a fanática manifestação do superego de Warlock. Thanos reclama que teve a sua parte nessas guerras cósmicas, "mas ao mesmo tempo, eu acho que essas são as únicas vezes que ele realmente se sentiu vivo", nota Starlin.






E existem adversários de Thanos que simplesmente se recusam a acreditar que ele não é mais uma ameaça para eles. Buscando poder suficiente se proteger, Thanos procurou o "coração do universo" e o "poder superemo" do cosmos mais uma vez. "Mas", o próprio Thanos explica em Thanos 1 (2003), "o primeiro dia de meu reinado terminou comigo destruindo o universo inteiro em um capricho". Uma criatura de extremos, realmente. Mas apesar disso, Thanos mudou: ele desistiu de seus poderes divinos para restaurar o universo e ressuscitar todos os seres vivos. (Essa saga é mostrada na minissérie de Starlin chamada Marvel Universe: The End, de 2003).






Dentro do Abismo

Entre aqueles que não percebem como Thanos mudou durante os anos estão outros escritores da Marvel, que, como comenta Starlin, "não tem a mínima ideia de como ele funciona". Nas últimas três décadas, Starlin entrou e saiu da Marvel em numerosas ocasiões e durante as suas ausências, outros escritores usaram Thanos em suas histórias. Mas na maioria das vezes, esses escritores ainda viam Thanos como o assassino cósmico e niilista das histórias do início dos anos setenta.

Starlin comenta: "Eu acho que esse é o problema com a maioria dos outros caras que o escreveram. Eles o tratam unidimensionalmente. E ele é extremamente complexo"

Starlin gosta de algumas histórias de Thanos por outros autores. Um exemplo é a história de Dan Jurgens em Thor, alguns anos atrás. Quando Starlin retorna a Thanos, após uma ausência da Marvel, ele preferiu incorporar o que outros escritores fizeram com o personagem. "Na maioria das vezes eu tento brincar com os brinquedos da Marvel ou DC sem jogar fora tudo o que aconteceu antes. Eu tento ter respeito suficiente pelos colegas artistas e escritores e tentar usar o que eles fizeram."




Mas Starlin diz, "se o negócio é realmente muito ruim, eu tento explicar e tirar da história geral." Uma das coisas que irritaram Starlin foi um arco escrito por Mark Waid em Ka-Zar nos anos 90 que usou Thanos. "Eu apenas recentemente encontrei Mark Waid, o qual não conhecia, e eu o confrontei sobre a história [risos] e ele disse, 'Bem, era para ser algum outro personagem que estava sendo usado em X-Men'. E eles simplesmente redesenharam o personagem como Thanos em Ka-Zar"

Então, uma das razões porque a minissérie de Starlin de 2002, Infinity Abyss, apresentando alguns doppelgangers de Thanos que ainda estavam na antiga fase "niilista". Eles que devem levar a culpa pelas histórias que Starlin acha que viola as características do Thanos "verdadeiro"!







O Thanos do Século 21

O tratamento mais recente de Starlin com Thanos foi nos seis números iniciais da série mensal Thanos, que foi colecionada no encadernado Thanos: Epiphany. Nesse arco, a vida de Thanos dá mais uma guinada inesperada. Concluindo que "apenas lidando com os meus próprios demônios pessoais eu poderia alcançar qualquer tipo de tranquilidade interna", Thanos decide buscar "redenção" pelos seus crimes passados fazendo boas obras. Durante esse arco Starlin coloca Thanos, que parece ter aceitado a sua culpa e está lidando com ela juntamente com Galactus, que está sendo consumido finalmente pela culpa de ter decorado bilhões e a entidade chamada Fome, um devorador sem consciência de universos inteiros."




Com a conclusão desse arco em seis partes, Starlin e a Marvel se separaram. Mas mesmo se Starlin tivesse permanecido, Thanos teria mudado de curso mais uma vez, "Bem, a coisa toda dele ter decidido se transformar em um cara legal não era algo que duraria muito, como você pode provavelmente adivinhar."

"O mundo não permitira que ele  fizesse isso. Eu tinha toda uma história envolvendo os Sh'iar e todos ono universo vindo atrás dele. Ele tinha muitos e muitos crimes para serem punidos. Eles simplesmente não o deixariam ser o sujeito bonzinho que ele pensou que poderia ser".

A palavra chave aqui é "pensou". Sendo um cara bom, expiando seus erros é para Thanos mais uma de suas viradas extremas na vida e mais um que seria abandonado.

O Que Faz Thanos Funcionar

Adam Warlock na verdade gosta de Thanos  e o considera um amigo. "Depois da tentativa inicial de um matar o outro", diz Starlin, Warlock e Thanos tem sido muito mais aliados que inimigos. Desde que Warlock foi apresentado como uma figura crística no passado, Thanos seria como Lúcifer. É como Cristo e Lúcifer "aprendendo a viver um com o outro", observa Starlin. "Seria bom se todos nós pudéssemos fazer isso".

Ainda assim, Warlock avisa os Rigelianos em Epiphany: "Thanos sempre foi uma personalidade complexa e instável. Ninguém se refere a ele como 'o Titã São'". Warlock acrescenta, "uma simples mudança de humor e Nova Rigel III pode ter que encarar um grave perigo".

Como podemos ser simpáticos com um personagem que por vontade própria destruiu milhões, bilhões ou até mesmo um universo inteiro de seres vivos?

"Bem", diz Starlin, "eu escrevi certos momentos entre ele e a Gamora que eu realmente senti que eram tocantes".

Thanos encontrou Gamora quando ela era criança e a criou para que ela se tornasse a mulher conhecida como a assassina mais perigosa do universo. Starlin observa que Gamora é, para todos os efeitos, a filha adotiva de Thanos. Já que Gamora e Warlock foram amantes, isso faria Warlock o genro de Thanos? "Eu nunca pensei dessa forma", responde Starlin, "mas sim, ele seria".

É claro, Thanos tentou matar os dois. Mas são águas passadas.

Ainda assim, como diz Starlin, "ele sempre foi um sociopata. Eu não o chamaria de psicopata porque eu acho que ele tem alguma afeição por Warlock, Gamora e até mesmo Pip [o troll]. Ele é um sociopata porque ele realmente não entende essas emoções".

Então, Thanos é insano? Starlin sugere que Thanos simplesmente está seguindo o seu próprio tipo estranho de lógica. "Sanidade é algo muito subjetivo. O que um esquizofrênico está vendo em seu próprio universo é completamente ininteligível para nós, mas em sua realidade ele pode ser são. É isso que acontece com essas pessoas, eles tem uma percepção de realidade completamente diferente da nossa".

Então, o que realmente Thanos quer da vida? Não é o poder supremo ou a vida de um eremita. Ou de arrependimento. Será que ele próprio sabe?

"Eu creio que existem certa coisas que todos nós queremos. Mas quando você chega a algo mais específico, isso torna-se mais complicado e nem sempre chegamos a uma resposta fácil". Então, Thanos está buscando uma resposta. "Assim como todos nós. Ele só é um pouco mais filosófico sobre isso e ao mesmo tempo não se contenta com nada".

Mas Starlin nos avisa que não devemos esperar nenhuma mudança significativa na personalidade de Thanos. "Ele foi um fazendeiro, mas ao mesmo tempo tinha um laboratório escondido. Você pode tentar mudar, mas na maioria das vezes você é o que é".

Thanos, o Inescapável

Mesmo quando Thanos não está trabalhando para a Marvel, ele algumas vezes tentou criar novas variações para Thanos. Por exemplo, Mogul, um vilão que Starlin criou para a DC que tem certas semelhanças físicas com o Titã Insano. "Eu conscientemente queria fazer uma versão de Thanos para a DC. Mas nunca realmente funcionou dessa maneira. Na verdade, recentemente eu estava falando com eles sobre fazer algum trabalho e Mogul era quem eu estava interessado. Mas não deu certo."

"Na verdade, em estou fazendo esse título chamado Kid Cosmos, e na segunda minissérie eu vou trazer um personagem que é o novo Thanos". Starlin o batizou de Hyperion Mors, mas ele diz "pode chamá-lo de Thanos 2.0 [risos]". Eles serão parecidos "apenas no fato que ele vai ser muito complexo e um personagem central da série, e que ele é um tipo de cara poderoso que é bom e ao mesmo tempo mau."

Nos mais de trinta anos que o Titã Louco fez a sua estréia nos quadrinhos, Jim Starlin continua claramente fascinado por sua criação. "Ele é tão complexo. Ele pode ser muito bom ou muito mau. E eu acho que é isso que o faz um personagem interessante e igualmente interessante de ser trabalhado, pelo menos para mim. Quer dizer, na maioria das vezes quando eu voltava a trabalhar para a Marvel, não era para trabalhar com Warlock ou o Capitão Marvel. cada vez que eu voltei para lá foi para trabalhar em uma nova história de Thanos. Eu eu sou muito orgulhoso de tudo que fiz com ele".

Então, no final, como podemos resumir Thanos, esse enigmático poço de contradições? Talvez Adam Warlock estava certo quando foi perguntado a mesma coisa em Thanos: Epiphany: "Lunático? Monstro? Salvador? Não sou eu que vou responder isso".


PETER SANDERSON é um historiador dos quadrinhos cujo trabalho inclui Marvel Universe. Ele leciona"Quadrinhos Como Literatura" na Universidade de Nova York, faz resenhas de graphic novels para a Publishers Weekly e escreve uma coluna on line na filmforce.ign.com/comics

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Um comentário:

  1. Excelente Ben, não conhecia essa entrevista. Adorei. Sou fã de Starlin. Parabéns!!

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