Continuando o artigo do historiador Peter Sanderson sobre o Superman da Era Weisinger. A matéria originalmente foi publicada no número 187 da Amazing Heroes (Janeiro de 1991).
Mais uma vez, é com você, Pete.
Parece que recentemente ficou na moda muitas pessoas condenarem as aventuras clássicas dos super-heróis das décadas passadas.
Mais uma vez, é com você, Pete.
Parece que recentemente ficou na moda muitas pessoas condenarem as aventuras clássicas dos super-heróis das décadas passadas.
Em muitos casos, creio, esses críticos de hoje estão
cometendo o erro de julgar as histórias inteiramente pelos padrões modernos do
gênero, o qual deriva basicamente da Revolução Marvel dos anos sessenta. Apesar
de parecer difícil para a maioria dos leitores acreditar, já que atualmente a
Marvel é considerada criticamente conservadora e até mesmo enfadonha ou
reacionária, na década de sessenta ela estava na vanguarda do gênero, dando aos
super-heróis, antigamente unidimensionais, uma nova profundidade. Foi a partir dessa mesma década de 1960 que a
tendência dominante nos quadrinhos de super-heróis foi deixar as caracterizações
mais realísticas.
Então, é daí que vem a ideia de hoje em dia das histórias de
super-herói apresentarem o seu protagonista como uma pessoa muito parecida com
nós mesmos, completo com todas as fraquezas e defeitos possíveis, que apenas
por acaso tem super-poderes. Ao invés de usarem ternos e ir trabalhar em seus
escritórios, esses personagens colocam uniformes e vão combater o crime. E o
público em geral não acha que eles são grande coisa, ou pelo menos os
consideram como qualquer celebridade que possa aparecer na revista People.
As histórias mais memoráveis do Superman do início dos anos
sessenta, entretanto, enfocam o conceito do super-herói de uma perspectiva que
é, ao mesmo tempo, a mesma e ainda assim
muito diferente. Elas não pretendiam dar qualquer verossimilhança ao personagem
principal, mas sim o mostrar como um mítico representante de um código moral.
Se as histórias de super-heróis de hoje, em seu pior, se transformaram em novelas
medíocres, as do início dos anos sessenta aproximavam-se do status de alegorias
morais.
Por um lado, o Superman da Era de Weisinger é a figura de um
homem comum, que cresceu em uma arquetípica cidadezinha americana, teve pais
adotivos que pareciam ter saído de um quadro de Norman Rockwell e tinha até
mesmo o seu cãozinho (apesar de ser um cachorro que também veio de Krypton).
Ele possui todas as virtudes que os americanos tradicionalmente associam com
seus heróis: coragem, patriotismo, lealdade, idealismo e uma devoção total a
seus amigos e seres amados. Não há nada particularmente “alienígena” nele:
Krypton poderia ser um país estrangeiro do qual ele imigrou para a América e
não um planeta distante. E já que ele é um personagem ficcional, ele pode ser
apresentado completamente sem defeitos.
Por outro lado, o Superman também é apresentado como uma
figura heroica de proporções míticas, cuja nobreza e outras virtudes, além de
seus grandes poderes, o fazem virtualmente um semideus caminhando entre heróis
comuns. Todos o respeitam, o tem como modelo e o tratam com reverência; não existem cenas como as que são
comuns nos quadrinhos de hoje, nas quais a polícia, representantes do governo
ou até mesmo pessoas comuns se recusam a fazer o que diz o herói, o criticam ou
mesmo o ameaçam com prisão.
Então, o Superman é ao mesmo tempo normal e um semideus. Sua
identidade dupla como o humano total Clark Kent é como o poderoso Homem de Aço
reforça esse tema. Mas apesar de sua origem, o Superman não é um deus que
desceu a Terra em forma humana, como uma das várias divindades em muitas tradições
religiosas, mas sim um humano que foi elevado a tal divindade. (Afinal, ele não
tinha poderes em Krypton e só veio a desenvolvê-los na Terra). O resultado é que o Superman se transforma em
uma figura simbólica que representa o ápice do potencial humano, o herói
americano primitivo, poderoso tanto física quanto moralmente.
É claro, a maioria das histórias do Superman em seu primeiro
quarto de século de publicação nem tocou nesse conceito e se contentou em
colocá-lo enfrentando ameaças em histórias simples do bem contra o mal, nas
quais o status quo benigno é restaurado no final, graças aos esforços do
Superman. Mas como eu coloquei anteriormente, pelo início dos anos sessenta os escritores e editores se
encontravam na posição de ter que chegar até o limite de suas convenções nas
histórias do Superman para manter o seu frescor criativo.
Uma das maneiras que eles acharam foi alterar o status quo
de maneiras radicais. Então, em “Superman Red and Superman Blue”( o assunto de
nossa coluna anterior), eles mostraram o que aconteceria se o Superman usasse os
seus poderes até o limite e transformasse o mundo em uma utopia. Ela foi
designada como uma “história imaginária” que poderia ou não acontecer em
qualquer tempo no futuro dentro do universo ficcional do Superman. Ou seja,
as séries Superman como um todo
mostravam um mundo que estava a beira de se tornar um paraíso terrestre através
dos esforços da humanidade em seu melhor, representada pelo Superman.
Mais freqüentemente, entretanto, as histórias imaginárias desse período eram muito mais assustadoras, mostrando possíveis mudanças de eventos que poderiam levara a catástrofe total. A mais famosa e celebrada destas histórias é “The Death of Superman”, originalmente publicada em Superman 149 (Novembro de 1961 e recentemente reimpressa em The Greatest Superman Stories Ever Told), na qual Lex Luthor finge ter se regenerado e então traí e assassina o Superman. Um aspecto de “The Death of Superman” que se destaca, especialmente hoje, é o grau que tanto o Superman quanto Luthor são apresentados como figuras maiores que a própria vida.
As cerimônias do funeral do Superman (com o seu corpo a
mostra em uma redoma enquanto procissões passavam por ele) me lembram daquelas
que aconteceram no assassinato de Kennedy, apesar da historia ter sido
publicada dois anos antes do evento. Possivelmente tais cerimônias fúnebres do
Superman foram inspiradas pelas de grandes figuras que haviam morrido no nosso
mundo. É a morte do Grande Homem, um herói. Similarmente, o julgamento de
Luthor em Kandor é explicitamentente ligado ao julgamento do criminoso de
guerra nazista Adolf Eichmman, tanto nas palavras quanto na imagem do acusado
colocado dentro de uma caixa de vidro.
Então, “The Death of Superman” surge como uma tentativa de
traduzir as emoções cercando fatos verdadeiros daquela época em uma fábula no
gênero dos super-heróis, o qual pela sua própria natureza lida com heroísmo e
vilania, crime e castigo em uma escala mítica.
“The Death of Superman” tenta restaurar um status quo pacífico para o mundo com a Supergirl tomando o lugar do Superman como protetora da Terra e levar Luthor para ser julgado por seu crime. Apesar disso, no final da história, o sentimento que fica é que o mundo ficou um lugar pior devido à morte do Superman, que o tempo de grandeza havia irremediavelmente passado. E como é dito no início dessa fábula, tais eventos “podem ser que nunca aconteçam... Mas ainda assim são possíveis”. E tudo na história vem do status quo normal, seguindo uma seqüência lógica dentro do Universo do Superman da época. A mensagem que fica é que apesar do status quo ser extremamente estável, ele poderia mudar de uma hora para outra. O mundo está a beira de um abismo no qual ele pode despencar por um mero capricho do destino.
As “histórias imaginárias” poderiam mostrar quedas
irreversíveis, mas a catástrofe freqüentemente chegava muito perto, mesmo
dentro da continuidade padrão. E é nessas histórias que existem as mais
interessantes explorações do Superman do período porque elas mostram o que
acontece a esse Homem Comum (ainda que super poderoso) para o qual todas as
coisas são possíveis, quando os apoios de sua existência segura são tirados
debaixo de seus pés.
O Superman desse período, me parece, também é o representante de um ser humano levando uma vida feliz e estável. Ele pode controlar qualquer situação que apareça. O que acontece então, se circunstâncias deixam sua vida de cabeça para baixo, deixando-o impossibilitado de manipulá-la ou muito menos restaurar a ordem? Como ele reage? E se é a sua mente ou corpo que de alguma forma se voltam contra ele, colocando-o em um perigo possivelmente inescapável?
Em tais histórias, para mim, o Superman se torna o símbolo do Homem Comum, lutando não contra super-vilões ou ameaças alienígenas, mas sim contra as fontes de medo que existem em uma existência cotidiana, medos que incluem a sua confusão com a sua identidade pessoal, a tentação de sua capacidade para o mal, a loucura e a própria moralidade. De fato, algumas dessas histórias pegam a quintessência do herói de aventura e prendem esse herói dentro de uma história de horror, observando como ele se debate para ficar livre.
Uma das mais impressionantes destas histórias e aquela publicada em duas partes, “Superman, King of Earth” e “King Superman versus Clark Kent, Metallo”, em Action Comics 311 e 312 (Março e Abril de 1964). Assim como em Hulk, na Marvel, essas histórias trabalham com o padrão de identidade dupla comum as histórias de super-heróis, mas usando os conceitos de Doctor Jeckyll and Mister Hyde. Nessa visão, Clark Kent pode ser visto como a parte humana que mantém o tremendo poder do Superman sob controle.
Na história o equilíbrio é quebrado. Graças a exposição a Kriptonita Vermelha, Clark é separado fisicamente do Superman, que aparentemente se torna uma criatura do id totalmente sem amarras (A Kriptonita Vermelha nas histórias do começo dos anos sessenta era virtualmente a encarnação do destino imprevisível, proporcionando mudanças terríveis contras as quais ele é impotente... E então trazendo-o de volta ao normal sem qualquer ação por parte dele).
O Superman toma de assalto o mundo todo, conquistando-o, usando uma coroa de jóias, construindo um enorme palácio e obrigando os líderes do mundo a prestar-lhe homenagens. Clark então organiza um grupo de resistência para “derrubar” o seu eu maligno do poder.
Para mim, a cena mais chocante dessa história é quando Clark é forçado a fingir que é o Superman para evitar a captura pela polícia. Para ter certeza que esse “Superman” não era um impostor, um policial dispara contra Clark, que bravamente esconde a sua dor agonizante e assim mantém o disfarce. Ferido mortalmente, Kent pede para ser transformado em uma versão do velho inimigo do Superman, Metallo, um ciborgue que tem como fonte de força a radiação da kriptonita. Dessa forma ele pode continuar a sua luta contra a sua contraparte maligna. Na verdade, Kent está tão disposto a parar o seu outro eu que ele se transforma em um monstro por vontade própria. Um mostro que é, literalmente, mais máquina inumana que homem, com todas as suas esperanças por uma vida normal destruídas.
Como Metallo, Kent é a encarnação da morte, mais morto que vivo ele próprio, carregando explosivos e tendo como fonte de força o único elemento que pode matar o Superman. Mais ainda, apesar do “pacato e gentil” Clark Kent ter sido sempre um papel que ele representava, Kent era na verdade o seu verdadeiro eu no dia a dia, com exceção da timidez fingida. Ou seja, ele era um homem de elevada moralidade e temperamento calmo. Mas ele se torna virtualmente irreconhecível em seu afã para impedir seu inimigo, mesmo que isso signifique matá-lo. Tenha em mente que naquela época o Superman/Clark Kent era caracterizado pela sua absoluta determinação de nunca matar nenhum ser vivo. Curiosamente ele incorpora algumas das mesmas características implacáveis do Superman, mas para poder destruí-lo.
Kent é vitorioso em seu confronto com o Superman, mas a vitória tem um custo enorme para ambos: o Superman morrerá e Kent deve passar por uma morte em vida.
Quando estava quase morrendo, o Superman admite para Kent que tudo aquilo tinha sido um embuste e ele nunca tinha se tornado mau, afinal de contas. O Superman havia fingido se tornar um tirano com a permissão dos líderes mundiais para esconder a verdadeira ameaça a Terra, uma invasão alienígena. Desta forma, o Superman havia anunciado os atos de destruição perpetrados pelos alienígenas como se fossem parte de sua própria campanha para dominar o mundo. Ouvindo isso Clark desliga os raios mortíferos da kriptonita e assim para também a sua própria degeneração moral que o havia transformado em um assassino. Quase imediatamente os efeitos da Kriptonita Vermelha cessam e isso faz que o Suoerman e Clark Kent se unam novamente em um único ser. O Superman derrota os alienígenas e tudo volta ao normal.
Isso parece muito fácil, não é? Em um nível literal a história parece, pelo menos para mim, perder totalmente a graça quando é revelado que a vilania do Superman era apenas um plano. Mas mesmo assim, a conclusão tem certo sentido se você considerar Clark o responsável pela re-emergência do verdadeiro e vitorioso Superman quando ele “mata” o Superman “mau” e depois se contém, já no limite da maldade ele próprio, se recusando a matar o Superman “bom”. Com Clark e o Superman de volta para o lado do bem, e provado que são iguais em uma batalha, faz sentido que eles voltassem a ser uma pessoa. A divisão foi resolvida.
O dilema de uma aparente divisão entre o Superman e Clark Kent é revisitado em “Clark Kent’s Incredible Delusion”, em Superman 174 (janeiro de 1965). Essa história começa com um homem chamado Adam Newman entrando no escritório de Clark Kent e revelando ser o Superman, inclusive com os super-poderes. Clark em seguida descobre que ele perdeu os seus poderes, que não consegue achar o seu uniforme e que, na verdade, não existe evidência em lugar nenhum que algum dia ele foi o Superman. Ele acaba duvidando de sua própria sanidade, pensando se ele meramente havia imaginado a sua vida como o Superman.
Não sendo mais capaz de confiar em sua própria percepção da realidade é terrível, mas ainda há mais nesse pesadelo particular. Há também o medo da traição, já que até mesmo o Batman e Krypto parecem abandonar Clark.
Existe outro aspecto no dilema de Clark que só funciona com eficácia no gênero dos super-heróis e suas duplas identidades. Clark consulta um psiquiatra que pergunta sobre a sua adolescência e conclui: “Você era tímido, introvertido, levando uma vida enfadonha. Nada mais natural que você invejasse o glamoroso e heróico Superboy! Minha teoria é que você começou a sonhar que você era o Superboy para aplacar o seu próprio complexo de inferioridade!”
O diagnóstico do psiquiatra descreve bem o apelo que o
Superman tem nos seus leitores. E Clark Kent descobre que tudo o que ele achava
que era especial sobre si mesmo, que o distinguia das outras pessoas e o fazia
ser admirado, nunca existiu. Ele se encontra preso em sua vidinha comum, em sua
própria mediocridade. Que foi só o que restou a ele. E esse talvez seja o
grande horror da história.
Mas logo que Clark chega ao fundo do poço e aceita que sua vida como Superman foi apenas uma ilusão, a normalidade volta à tona. Mortalmente ferido, Adam Newman confessa que ele era apenas uma androide que tentou roubar a identidade do Superman e para isso se valeu de uma quantidade enorme de truques para fazer que Clark duvidasse de sua própria sanidade. E eles trocam de posições: Clark ganha seus poderes novamente e Newman torna-se a não-entidade, perdendo a identidade que havia roubado e até mesmo a sua própria existência.
E ainda existem outras. Em “The Nightmare Ordeal of Superman” em Superman 171 (Agosto de 1964), o Superman se encontra preso em um mundo primitivo cujo sol vermelho tira os seus poderes sobre-humanos. Ele é reduzido à mera humanidade e desamparo total. Como para simbolizar tudo isso, o próximo desastre a cair sobre ele é que ele é vencido por um nativo selvagem que toma o seu uniforme, símbolo de sua identidade super-humana. O selvagem começa a vestir o uniforme, trocando os papéis com o Superman, que fica com os trajes do homem das cavernas. O usurpador então humilha o ex-Superman em uma luta e ele acaba em uma caverna, com uma febre que faz que ele delire, então tirando dele até mesmo a capacidade de pensar coerentemente.
Mais uma vez o Superman é resgatado, mas não por seus próprios esforços: uma equipe da Terra aterrissa no planeta e o encontra. Um toque aparentemente absurdo na história é que o Superman fica com seus óculos de Clark Kent e os usa contra as tempestades de areia do planeta, mas no final da história ele estava fraco demais para até mesmo tirá-los e ficou com medo de quem viesse socorrê-lo descobrisse a sua identidade secreta. Isso parece bem ridículo em uma primeira leitura, mas faz muito sentido simbolicamente, já que para o Superman ser exposto como Clark Kent o reduziria a mera “humanidade”, despindo-o da capacidade de transcendência, o mesmo pesadelo que o assombrou durante toda a história “The Incredible Delusion”.
É difícil dizer exatamente quando no futuro essa história se
passa. A Supergirl agora é a Super-mulher adulta e ela ainda parece jovem, mas
Jimmy Olsen parece ter cerca de quarenta e tantos anos (e aprece não ter
envelhecido bem). Então todos os outros estão aparentemente na casa dos
sessenta, mas eles parecem muito mais velhos. Olhando para essa história em
1990 nos dá alguns insights divertidos, já que agora teoricamente estamos
vivendo na era futura que é mostrada na história, e o futuro de hoje não aprece
nem um pouco com o mundo no estilo de Buck Rogers mostrado.
É uma história sobre os horrores da velhice e mortalidade que me assustou muito quando eu a li pela primeira vez na metade dos anos sessenta. Virtualmente tudo que acontece ao Superman na história acontece com uma pessoa normal. A imagem de um Superman envelhecido, em seu uniforme, sofrendo, dramatiza de forma precisa o abismo entre a vitalidade da juventude e a fragilidade da velhice. Ainda mais, a súbita mudança do Superman através do tempo mostra o dilema do envelhecimento – ele pode não ter mudado muito em termos de personalidade e espírito durante os anos, mas de qualquer forma ele se encontra preso em um corpo em declínio.
O Superman havia sido esquecido pelas gerações mais novas que surgiram depois que ele deixou de estar em sua melhor forma. A jovem Supergirl o tinha superado nos seus papéis de super-herói e repórter. Velhos amigos haviam morrido (Perry White) ou tinham diferentes estilos de vida (Lana Lang). Graças aos avanços da ciência e mudanças na moda e arquitetura, assim como o envelhecimento de seus amigos e parentes, o mundo ao redor do Superman parece inteiramente alienígena para ele. Mesmo o que antes era certeza absoluta, não mais existia. Lex Luthor, por exemplo, tinha se regenerado e era o prefeito de Metropolis!
Uma das imagens mais chocantes é, apesar de parecer tola e um tanto absurda, é um envelhecido Krypto sendo levado pela carrocinha, aparentemente para ser sacrificado. Apesar de alguns antigos companheiros, como Jimmy Olsen, serem gentis com o Superman, apenas a igualmente envelhecida Lois (que ele encontra no final da história) parece ter alguma simpatia e afeição verdadeira por ele. Até mesmo a Supergirl, sua prima, é inconscientemente insensível, até mesmo explorando o Superman por conta de uma matéria.
Nesse caso a normalidade é restaurada pelo simples procedimento de fazer o Superman acordar e descobrir que tudo não passava de um sonho. Mas é claro, isso não significa que o Superman – e seus leitores – nunca ficaria velho e eles serão poupados desse destino. A história termina com o Superman mandando flores para Lois e um Clark comentando que talvez o Superman quisesse evitar ficar sozinho em sua velhice. Os quadros finais da história dão um final feliz, mas a sombra da visão apresentada nas páginas anteriores não é fácil de ser esquecida.
Olhem quantas vezes o Superman não triunfa de verdade sobre as forças que o atacam. A vida do Superman como um velho sem poderes foi tudo um sonho; os efeitos da Kriptonita Vermelha se dissiparam; Adam Newman muda de idéia e revela a verdade.
O padrão mítico está incompleto. Nessas histórias o Superman é apenas um peão do destino, que o transforma em vítima e depois faz tudo voltar ao normal. Ele não pode se salvar ou vender as forças contra ele, a melhor coisa que ele pode fazer é sobreviver e esperar que a roda da fortuna gire mais uma vez ao seu favor. Mas a força da aventura de fantasia heroica reside no herói ativamente derrotar a adversidade, não meramente escapar dela. Não é surpresa então que a Marvel cresceu rapidamente em popularidade nos anos seguintes. Os seus personagens também sofriam desses problemas e infortúnios, mas transcendiam as circunstâncias através de suas lutas, dinamicamente orquestradas, contra seus adversários. Lutas que se transformavam em triunfantes vitórias.
A revolução Marvel dos anos sessenta pode ser mais bem
lembrada pelas mudanças que ela fez na caracterização, mas ela foi importante
também para re-energizar o apelo que existia nas aventuras dos super-heróis.
Triunfar sobre o desespero e não se render a ele.
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